Das Mädchen in Rot - Chpt 8 [Portuguese - BR]

Das Mädchen in Rot [Portuguese - BR]



Descrição:

Das Mädchen in Rot (Alemão: A Garota de Vermelho) é uma adaptação sombria da história original escrita por Charles Perrault e os Irmãos Grimm. A adaptação conta a história de Nella, uma jovem que vivia com sua família em uma tribo e cujo pai foi morto por um Ser-Lobo negro (é como as tribos chamam os lobisomens) enquanto ele e um amigo salvavam a jovem Nella. Após atingir a maioridade, Nella foi convocada para fazer parte de um culto onde as mulheres adultas vestem um manto vermelho e partem da tribo para a casa da Grande Mãe para receber a bênção dos ancestrais, a fim de manter os Seres-Lobo longe da tribo. De acordo com a Anciã, a casa da Grande Mãe fica nas profundezas da floresta — o mesmo lugar onde os Seres-Lobo e outras criaturas terríveis espreitam, atacando os visitantes que se aventuram sem um pingo de cautela.

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Introdução:

Há cerca de quinze Luas Cheias, uma antiga tribo vivia numa região onde viria ser uma floresta. Essa tribo era conhecida por venerar uma entidade mística cuja forma lembra um lobo.

Quando a primeira Lua Vermelha surgiu no céu, o povo daquela tribo começou a se transformar na imagem da entidade. Ninguém sabia o que aconteceu para eles se tornarem a imagem da entidade, mas diziam que o vento carregava vários uivos pelo mundo inteiro.

Uma noite, um pequeno grupo de caçadores adentraram na floresta à procura de comida. E quando avistaram o primeiro cervo para levá-lo à tribo, um enorme vulto apareceu e devorou três dos caçadores que entraram naquele lugar, restando apenas um deles para contar o que aconteceu. Ele disse que a criatura que matou os outros que foram com ele tinha a forma de um homem, mas a cabeça e pelos de um lobo.

E foi naquele dia que a tribo passou a temer a criatura lobo que atacou o nosso povo na floresta.

Capítulo 8

A viagem em direção ao Matador de Lobos seguia com pouca dificuldade para a jovem da capa vermelha e a loba. A estrada adiante era iluminada pelos espíritos da floresta. No entanto, Nella não tinha ciência de que os dois novos colegas de viagem são na verdade os lobisomens que tentaram matá-la, com apenas Hvit reconhecendo pelo cheiro.

Sem o William por perto, Nella não tinha como saber o porquê dos latidos e rosnados da loba para os dois. O lobisomem cinzento sentia-se incomodado com Hvit, mas o marrom-escuro pedia para não fazer agora se era para manter os disfarces até chegarem na entrada para a caverna.

Nella virou-se para os dois enquanto andava.

“Ei. Está tudo bem com vocês aí?” Perguntou a moça da capa vermelha.

“Sim. Tá tudo bem, garota.” Respondeu o homem de cabelo cinzento, disfarçando as intenções cruéis.

“Não há nada pra se preocupar.” Completou o homem de cabelo marrom-escuro.

Nella sorriu. “Fico feliz em saber. Estamos quase chegando.”

Os dois lobisomens disfarçados sorriram pra ela. Mas não era um sorriso por agradecimento. Eles anseiam pelo momento de se revelarem e abordarem Nella no momento que estiver com a guarda baixa e levá-la para o Alfa.

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A nevasca diminuía a intensidade e os céus se abriam, com algumas estrelas aparecendo. Não faltava muito para a lua se revelar para os viajantes. E no meio da floresta, o jovem garoto de cabelo castanho vagava por entre as árvores. Estava longe da posição de Nella e Hvit. Ainda estava sentido pelo acontecido, da conversa que teve com o lobisomem negro e da discussão com Nella.

No entanto, sentiu algo observando ele. No começo optou por ignorá-lo, mas se aproximou dele por de trás. Quando William virou, viu que não era ninguém. Não havia nenhuma criatura, seja ela agressiva ou dócil. Em vez disso, ouviu uma voz chamando ele. Uma voz feminina que lembrava muito a de Nella, ecoando por entre as árvores.

“William…”

O tom da voz que o chamava era de desespero, como se fosse a garota que acompanhou ele durante a Grande Viagem estivesse com problemas.

William virou rapidamente para várias direções, com os olhos arregalados de preocupado. Tudo ao redor dele girava. Até que ele parou, sabendo de que foi um erro ter deixado a garota sozinha, mesmo após a discussão.

Nella!” Disse William em seus pensamentos. Sem mais nada, ele seguiu correndo em direção à Garota de Vermelho. Atravessava as árvores, colocando as mãos na frente pra abrir passagem por entre os galhos e folhas.

Nella, aguente firme! Estou indo!

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Nella e os outros se dirigem até uma região montanhosa. A noite continuava fria com uma leve nevasca, mesmo com aquela capa para cobrir os ombros e a cabeça. O céu estava se abrindo, com os dois lobisomens sentindo seus corpos se transformando vagarosamente.

Nella avistou o Espírito-criança na frente da passagem, com o dedo indicador se levantando para cima.

“Adiante, você encontrará a espada.”

Nella avançou um pouco para frente. No entanto, algo a fez parar. Era a Hvit. Estava ficando arisca, rosnando com relação aos dois viajantes misteriosos.

“Hvit, o que foi?” perguntou Nella para a loba, notando-a do comportamento errático. “Eu não compreendo porque você está assim desse jeito.”

Hvit latia para Nella. A comunicação entre elas ainda encontrava dificuldades. Nella não entendia bem o que a companheira de viagem estava querendo dizer.

Diante daquilo, os dois viajantes avistaram uma porção da lua se revelando. Puderam sentir as energias dela pulsando nos pelos e nas veias.

Nella tentou acalmar Hvit, falando que não tinha motivos para ficar daquele jeito.

“Hvit, por favor, fale comigo. O que houve?”

“Seus novos acompanhantes de viagem não são o que aparentam ser.” Chamou a voz do Espírito na forma de Nella como criança.

A fala do Espírito atraiu a atenção da garota. Ao atendê-lo, notou o olhar sério que emanava do rosto espiritual.

“O quê?!” Perguntou a garota assustada.

A entidade apontou com o dedo indicador para o alto do céu, para a Lua, já em fase cheia. Nella ficou assustada. O horror dela ficou completo após avistar os homens de cabelo cinzento e marrom-escuro. Eles se contorcem, com membros se desconfigurando e se transformando em monstros. Garras cresciam de seus dedos, agarrando as peças de roupa e rasgando-as. Os rostos deles ganharam forma de lobo, com pelos crescendo de forma acentuada.

Nella não estava ciente do perigo que corria por ter aceitado eles na viagem. Hvit assumia uma postura defensiva, com as patas abertas e o corpo baixo. Rosnava para eles, com os dentes à mostra. E do nada, o Espírito-criança estava desaparecendo de vista. Nella tentou implorar pela ajuda dele.

“Não! Por favor, me ajude!”

“Receio que você tenha trazido a ruína pra si própria pelo descuido. Não podemos ajudá-la.” respondeu o Espírito da floresta, com boa parte de sua forma desaparecendo. Nella tentou chamá-lo, apenas ter o rosto da entidade se dissipando em forma de fumaça.

Nella ficou horrorizada. E pra completar os horrores, viu os dois lobisomens em suas formas completas. As vestes que eles pegaram pra usar foram destruídas, ficando apenas os corpos peludos e garras afiadas. Soltaram um uivo alto do qual podia-se ouvir à distância. Esse mesmo uivo foi captado pelo jovem William enquanto corria em direção da garota que o acompanhou.

“Não! NELLA!” gritou ele assustado.

A Garota de Vermelho tentava recuar para se salvar enquanto os dois lobisomens avançavam devagar. Hvit recuava rosnando para eles, apenas para ser vista como um enrosco. Os monstros emitem risadas medonhas e assustadoras, apenas para provocar a pobre garota de medo. O cinzento lançava seus golpes na direção dela, com a Nella desviando e recuando. Novamente, ele desfere um outro golpe, sendo desviado por ela. Ele ria por provocá-la.

E no último golpe, Nella caiu de costas no chão, sentando com força a ponto de machucar as coxas e o traseiro. Novamente, o lobisomem cinzento solta um rugido alto, assustando Nella em sequência. Ao saltar na direção dela, Hvit reagiu, abocanhando o pescoço dele. Ela pulava de um lado pro outro enquanto enfrentava a monstruosidade lupina.

O outro lobisomem espreitava na direção da garota. Os olhos dela permaneciam fixos nele, tentando prever o próximo movimento dele. Naquele instante, ele desferiu um salto na direção de Nella, com ela escapando e correndo pra longe. Hvit mordia a orelha direita e o pescoço do lobisomem cinzento, machucando-o a ponto de se mexer para tirar a loba de cima. Nella via a companheira enfrentando ele sozinha.

As mordidas de Hvit causavam machucados sérios no lobisomem cinzento, com sangue escorrendo da orelha direita e do rosto. Ao saltar pra próxima parte do corpo, teve o pescoço agarrado por ele, apertando-o. Nella ficou horrorizada com a cena.

Eu estou farto de você, loba!” gritou o lobisomem cinzento, jogando Hvit pra longe, atingindo o chão e rolando com força.

“Hvit!” Gritou Nella horrorizada com a cena. A loba estava caída no meio da neve e terra, não conseguindo se levantar devido a dor.

A voz dela chamou a atenção do agressor. Ela apanhou um galho seco do chão, correndo para acertá-lo com um golpe. No entanto, ele desferiu um golpe, derrubando Nella. O galho que ela apanhou foi espatifado pela tremenda força física do monstro.

Nella se recuperou do golpe, mas viu que não tinha meios de enfrentá-lo, Nella correu para longe pela vida dela. O monstro de pelos cinzento corria atrás da garota, saltando de lado pra derrubá-la. Nella sentiu o peso dele esmagando-a, tirando ela do curso a ponto de cair no chão. Tentou se levantar, mas foi impedida quando ele aterrissou nas proximidades, agarrando as pernas dela com as garras afiadas. Parte do vestido e das botas foram marcados com arranhões e rasgos. O outro se aproximava dela.

Nella gritava de medo. Lágrimas escorriam dos olhos enquanto assistia aquela cena macabra. Tentava chamar o nome do pai dela, da mesma forma de quando ela era uma criança, na qual estava sendo arrastada pra longe pelo Johann.

Tadinha. Tá tentando chamar o papai.

Nella chorava de medo. Nada que ela fizesse resolveria.

Vamos ver se os Espíritos estão te protegendo, garota!” disse o lobisomem cinzento, erguendo a mão esquerda, exibindo as garras monstruosas para acabar com ela.

Nella gritou de medo, fechou os olhos na esperança de morrer. Num instante, o lobisomem de pelos cinza que estava em cima dela sentiu algo derrubando-o com força. O marrom-escuro se espantou, embora tivesse ciência de quem poderia ter feito aquilo. E do nada, ele avista o lobisomem de pelos castanhos arrastando o cinzento pelo focinho, jogando-o na direção do outro.

Nella abriu os olhos e se levantou devagar. Para a surpresa dela, avistou os dois lobisomens estando de pé após o ataque, encarando William na forma deles. Os olhos dela se arregalaram.

“William…” disse ela baixinho.

Castanho. Imaginei que você fosse fraquejar pela garota humana.” disse o Ser-Lobo marrom-escuro estando de pé enquanto o outro se levantava. “Mas não se preocupe. Vamos garantir que os seus restos mortais apodreçam na floresta enquanto levaremos a garota pro Alfa.

Eu não vou permitir que vocês levem ela para ele!” dizia o jovem rapaz, confrontando os dois lobisomens. “Além do mais, eu é que deveria…

Não! Você não está em posições para nos convencer a mudar de ideia!” respondeu o cinzento.

Nem mesmo o Pelo Negro colocaria você nesta tarefa!” completou o de pelos marrom-escuro.

William suspirou diante daquele impasse. “Muito bem. Se é assim, então eu vou acabar com vocês! Pela segurança dela!

Ouvindo a fala daquele lobisomem rebelde, de que protegeria ela daqueles dois monstros, Nella ficou surpresa. A expressão que tinha de certo temor por ele mudou para alívio, sentindo que ele faria isso por ela. Os dois Seres-Lobos assumiram suas posições agressivas, preparando-se para atacá-lo.

Muito bem, Castanho. Você fez a sua escolha!” Encerrou o marrom-escuro.

Você morrerá como um rebelde e seus restos serão esquecidos!” encerrou o cinzento.

Os dois se separaram para atacar William em direções opostas. O cinzento pegou pela direita e o marrom-escuro pela esquerda. O garoto castanho na forma lupina permanecia quieto, olhando um ao outro tentando prever os movimentos deles. As pupilas deslizavam de um ângulo para outro conforme seguia os passos deles.

Nella permanecia quieta na posição que estava, assistindo o confronto deles. Quando o lobisomem marrom-escuro deu o próximo passo, um som de estalo ecoou da pisada dele. Era um galho seco que foi pisoteado, sinal de que ele estava para atacar. O olhar de William mirou na ameaça iminente. O lobisomem marrom-escuro saltou com um rugido, lançando seu corpo para frente e as garras prontas para atacar.

Os dois se colidem em um confronto direto frontal, com um deles desferindo golpes e mordidas, sendo desviados e contra-atacados. No meio da luta, o lobisomem cinzento se aproximou de trás, atacando William com mordidas pelas costas, sendo arremessados pra frente. O marrom-escuro avançou com as garras da mão direita na direção do peito do rapaz, arranhando-o.

Nella cobria a boca dela, assistindo aquele duelo horrorizada. Via o colega dela enfrentando dois adversários de mesmas forças, apenas para ver que estava em condições desiguais. William rugia de dor e fúria, atacando os dois seres de mesmo sangue e progenitor. Enquanto tirava um dos agressores de cima, o outro avançava, lesionando uma das partes do corpo do garoto castanho. William sentiu a perna direita sangrar após um golpe cortante desferido pelo marrom-escuro. Depois, o peitoral e o ombro esquerdo sangravam por conta das mordidas do cinzento, e por fim o rosto foi atingido com arranhão, sangrando a testa e a lateral do rosto direito.

William caiu no meio da neve. A respiração dele ofegava enquanto o corpo estava exausto pelos traumas e machucados de combate. Os lobisomens marrom-escuro e cinzento se preparavam para o golpe final, distanciando do adversário. Nella tentava esconder o medo e o choro pelo colega. Em seguida, os dois correram para desferir o golpe final em William, correndo com as mãos como se fossem patas dianteiras. O garoto não tinha muitas forças para reagir ao ataque.

Então, este é o meu fim?” Pensava ele, exausto e quase cego pelo sangue cobrindo o olho dele. “Ao menos… eu sei que morrerei como um homem… livre.

O cinzento e o marrom-escuro saltaram na direção de William, colocando as garras na frente. Quando parecia ser o fim, ele ouviu o som de alguém gritando o nome dele.

“WILLIAM!” Era a voz de Nella, ecoando nos ouvidos dele. E do nada, várias imagens percorrendo na mente dele, do tempo que passou com a garota da capa vermelha e até a cena de discussão que tiveram. E no meio delas, surge um rosto de uma mulher, da mesma cor de cabelo e pele que o dele. Vestia a mesma capa vermelha que a Nella, mas as vestes eram diferentes. Ela sorria para William.

William. Meu filho.

Um leve sussurro saiu dos lábios dele. “Mãe. Nella.”

Num instante, o lobisomem castanho se levantou, e com uma porção de neve e pedras apanhadas no chão, ele jogou na frente dos dois monstros, cegando-os. O marrom-escuro, atingido pelo golpe de William, perdeu o garoto de vista ao fechar o olho esquerdo ainda intacto, enquanto que o olho direito destruído estava cego pelo golpe que tinha recebido há anos.

Maldito!” zangou o monstro de pelos marrom-escuro, ainda em direção ao garoto durante o salto.

O cinzento também esfregava os olhos após ser atingido pelo golpe, mas foi o primeiro a se recuperar do susto. Com os olhos abertos, lançou uma investida agressiva, apenas para ter um vazio no local em que William estava e aterrissar no meio da neve e terra.

Ele olhava para o redor dele, com os dentes afiados à mostra, as pupilas dos olhos contraídas pela frenesia e as narinas tentando localizá-lo pelo cheiro. Nada do lobisomem rebelde. O cinzento rugiu de raiva. E atrás dele surge um vulto, agarrando o maxilar e a cabeça com força. William o apanhou com aquela cortina de pó, neve, terra e pedras, aproveitando-se do momento de cegueira para atacar o lobisomem cinzento.

O marrom-escuro, que já estava no chão, esfregava o olho intacto para tirar a sujeira. Se cambaleava enquanto se recuperava do golpe furtivo, batendo às vezes nas árvores. E quando podia ver algumas coisas, escutou o som do irmão se debatendo, tentando se livrar do William em cima dele.

William derrubou o cinzento através do peso dele e tirando o equilíbrio dele, caindo no chão gelado e coberto de neve. As garras dele prenderam-se com força ao redor do focinho, puxando-o pra cima. As garras do caído tentando se debater para tirá-lo de cima e recuperar a respiração. As pernas de William estavam enroladas no peito de pelos cinza, forçando a cabeça pra sair violentamente do pescoço. Um estalo ecoou naquele membro, seguido de uma cabeça deslocada e arrancada do restante do corpo, com os braços e pernas caindo sem vida e o sangue jorrava do pescoço, manchando o corpo de William.

Nella assistiu aquela cabeça grotesca. Os olhos dela estavam arregalados de horror, mas sabia que o guardião dela fez isso para protegê-la de seus agressores.

O último monstro que restava se levantou. Ficou arrasado pela morte do outro, vendo o corpo do cinzento caído na neve, jorrando sangue vermelho-escuro naquela região branca e limpa.

Irmão!” gritava ele, entristecido pela perda do outro.

O garoto na forma de lobisomem ouviu o chamado do outro adversário. Suspirava de exaustão enquanto se recuperava da luta.

WILLIAM, VOCÊ VAI PAGAR CARO POR ISSO!!!

Como ato de vingança, o lobisomem marrom-escuro correu na direção do alvo, agarrando-o no peito e jogando-o contra uma árvore. William sentiu as costas baterem com força e um pedaço de galho pontiagudo atravessando o lado esquerdo da cintura. A dor foi tanta que ele cuspiu sangue.

O marrom-escuro desferiu vários golpes e socos no rosto, focinho, peito e abdômen, fazendo o rapaz gemer e se contorcer pelos machucados.

Nella balançava a cabeça de rejeição, com o rosto manchado de lágrimas devido ao intenso choque emocional. Olhou ao redor dela, avistando um pedaço do galho sendo trazido pela Hvit. A garota se espantou por ela ainda estar viva, mas andava mancando enquanto estava seriamente ferida. O galho foi o mesmo que ela tentou usar para atacá-los. Ainda tinha uma ponta afiada para acertá-lo.

Hvit abriu a boca, soltando o objeto pontiagudo para Nella. A respiração da loba era ofegante devido à dor do impacto, na qual deitou-se no chão gelado. Nella pegou o galho, olhando para a ponta e depois para a loba, sendo respondida com um balançar pra frente.

Com um pouco de coragem, ela correu com a arma rústica na mão na direção do lobisomem marrom-escuro. Nesse tempo, William tentava resistir a todos os golpes do outro, balançando o corpo e a cabeça por cada soco e arranhão. A boca cuspia sangue, assim como escorria pra fora pelos ferimentos ocasionados pelo agressor de pelos marrom-escuro.

Eu vou acabar com você, William! E como prova, eu vou levar a garota humana e a sua cabeça pro Alfa!” exclamou o lobisomem de pelos marrom-escuro.

Levemente o William levantou a cabeça dele, mirando o olhar dele no agressor dele. Podia ver a mão direita dele se levantando para o alto, exibindo as garras afiadas dele. Estava claro que o golpe final estava para acontecer e o William não tinha mais forças para revidá-lo.

Vai se arrepender por ter matado o meu irmão! O nosso irmão, William! Por sua culpa, terá o mesmo destino que ele!

O monstro desferiu o golpe final ao lançar a mão dele na direção do peito do garoto. Pouco antes disso acontecer, a figura de Nella pulou na direção das costas dele, agarrando-se nos pelos que compunha a cabeleira. E com o galho na mão, Nella desferiu uma espetada no olho ainda intacto, cegando-o por definitivo. Ela gritava enquanto virava o galho naquele lugar, fazendo o lobisomem se debater e sacudir para tirá-la de lá. Os gritos de dor despertaram uma porção das forças de William, revitalizando-o a ponto de sair daquele pedaço de madeira que emergia do tronco de árvore. Os dentes dele cerraram de dor, sentindo a ponta rasgando o interior do ferimento.

Enquanto isso, Nella se segurava na cabeleira e no galho espetado no olho esquerdo, sentindo as chacoalhadas do lobisomem marrom-escuro. As mãos dele se mexiam para o alto, andava de um lado para o outro de forma desgovernada. Em seguida, ele a apanhou pela capa e a jogou com força pra frente, fazendo a Garota de Vermelho rolar no chão. A neve amorteceu a queda, mas sentiu o corpo doer. William ouviu os gritos dela quando foi arremessada pelo adversário. Nella se contorcia caída, tentando se levantar. Quando ela virou o rosto pro lado, avistou o monstro ainda de pé, retirando o galho da cavidade ocular esquerda. Sangue espirrava do local, ficando apenas um buraco vermelho e escuro. A raiva que ele tinha por ela era tanta que avançou com os pés batendo com força na direção dela.

Sua pirralha! Vou garantir que você sofra antes de eu te levar para o Alfa!” gritou o lobisomem furioso, localizando a garota pelo cheiro.

Nella gritou de medo. Não tinha forças para se levantar nem para escapar. A mão esquerda dele desceu até o rosto dela, prestes a pegá-la e levá-la ao covil dos outros. Quando tudo parecia ser o fim dela, o lobisomem marrom-escuro sentiu algo atravessando o pescoço dele. Era o galho que a garota usou para cegá-lo. Todo banhado em sangue. Atrás dele estava o William, ofegante enquanto olhava para o adversário. E com um pouco de força, retirou-o rapidamente e o enfiou na cabeça, atravessando o cérebro e saindo pela boca. O olho branco do lado direito arregalava, expressando horror pelo ataque surpresa de William. Sem mais forças para reagir, o lobisomem marrom-escuro caiu de peito sem vida no chão. Sangue jorrava no chão branco através da garganta e da boca.

A Garota de Vermelho se levantou vagarosamente. Sentia um pouco de dor, mas conseguiu se recompor ao ser arremessada pelo monstro. A frente dela estava o William, mesmo na forma de lobisomem. Do nada, ela viu o corpo se desmoronar, transformando-se em humano. A Lua Cheia foi coberta pelas nuvens negras da noite. E aos olhos dela, ele voltou a ser um garoto humano, desprovido de vestes e pelos. Mas os machucados da briga com os dois lobisomens ainda era evidente. Sob estresse físico, William caiu no chão, inconsciente. Nella correu para socorrê-lo.

“William!” chamou ela, colocando a cabeça dele no colo. Sacudiu-o com toquinhos, mas não surtiu efeito. Chamou ele várias vezes, mas não conseguiu reanimá-lo.

Hvit se aproximou deles ainda manca. Sentiu a mão dela nas costas, acariciando-a para aliviá-la enquanto Nella tentava socorrer o William.

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Passado uma hora após o confronto de William com os dois lobisomens, Nella aplicava um pano embebido com água morna no rosto e no peito do garoto. Estava deitado no chão, com a cabeça levemente apoiada na capa vermelha. Ela olhava para o rosto adormecido dele, não mais com temor ou com raiva pelo fato dele ser um lobisomem. Mas ela olhava com calma e ternura. Uma fogueira estava acesa para protegê-los do frio e dos perigos da noite. Hvit estava deitada no chão enquanto se recuperava dos ferimentos. A boca estava aberta, a respiração ofegava e o corpo se contorcia parcialmente por causa da dor.

Quando ela estava para se aproximar do rosto do garoto, fechando os olhos em seguida, algo a espantou a ponto de recuar. William recuperou a consciência, levantando o corpo dele pra frente. O choque da dor ainda percorria por conta dos machucados que recebeu do confronto com os dois lobisomens. Nella colocou a mão esquerda nele, sussurrando para ele se acalmar.

“Calma, William. Não se esforce muito.” pedia a jovem garota de cabelos castanhos.

A respiração de William arfava pelo susto. A testa estava um pouco encharcada de suor e de água. Em seguida, virou o olhar dele para a colega.

“Nella. O que… o que aconteceu?”

“Você enfrentou dois lobisomens sozinho. Por um instante, achei que seria o nosso fim, mas se arriscou para nos salvar.”

Ouvindo aquilo, William ficou assustado. Quando Nella citou “nosso fim”, ele pensou na Hvit.

“Onde está a Hvit?!”

Os olhos da garota expressaram receio pelo estado da loba. Olhou para o lado inferior direito, local onde a Hvit estava. Quando William a viu, ela estava deitada. A boca dela estava aberta, respirando rapidamente enquanto latia com gemidos.

“Hvit se arriscou pra me proteger. Mas os lobisomens… eles foram rápidos demais. Apanharam ela e a jogaram com força.”

Ouvindo aquilo, William ficou arrasado. Embora ainda esteja viva, a saúde da loba estava debilitada. Ele se aproximou com cuidado da loba, apesar do aviso de Nella em não se esforçar pra se levantar ou andar. Acariciou ela da cabeça até o peito que se mexia rapidamente por conta da respiração rápida.

“Hvit.” respondeu ele com uma expressão séria misturada de preocupação. Os olhos da loba estavam fixos no rosto dele. “Deveria tomar mais cuidado na próxima. Não tem mais a mesma força de antes.”

“Como assim, William?”

“Hvit já é uma loba idosa, Nella. Por mais que ela queria dar a vida dela por nós, tem certas coisas que ela precisa entender que não é mais motivo de se esforçar.”

Hvit latia para eles. O garoto sabia que a viagem até a espada estava ficando perigosa, mesmo assim ela estava disposta a ir com eles.

“Não pode estar falando sério. É muito perigoso!”

Novamente, a loba latiu. Em seguida, abriu a boca para respirar, expondo a língua para controlar a temperatura. Nella sentia que ela ainda estava animada, mesmo um pouco preocupada pelo estado dela. Já o William ficou sério com a resposta dela.

“É suicídio, sabia disso, Hvit?”

“William, o que foi?”

“Hvit está disposta a ir com a gente, apesar dos ferimentos. Eu avisei que não era uma boa ideia, mas ela é como você: teimosa.” respondeu o garoto, segurando o peito dele de dor.

“William, eu sei que vocês podem ter os seus desentendimentos, mas agora eu estou aconselhando você a descansar.” disse Nella, colocando a mão dela no ombro, fazendo-o deitar no chão.

“Mas, Nella…” disse o garoto, com o dedo indicador levantado nos lábios dele, ouvindo um “shhhh”.

“Sem mais. Agora sou eu que vou cuidar de vocês.” respondeu ela, colocando a mão direita na testa dele.

William balançou a cabeça pra frente. “Tá legal, Nella. Eu faço o que você mandar.”

Nella sorriu para o colega de viagem. Aproximou-se do rosto dele, beijando a testa em seguida como gesto de agradecimento.

“Obrigada, por me proteger sempre.”

Nella seguiu-se para atender Hvit enquanto mantinha a fogueira acesa com um pouco de madeira. Arrumava as bandagens na loba enquanto dava um pouco de água e comida para ela se alimentar. Nella sorria ao ver a companheira reagir bem ao tratamento. O som dos estalos vindo da fogueira ecoavam dos gravetos e a chama emanava calor para mantê-los aquecidos, a salvo do frio da noite. Mas ainda sim, tinha o risco de que os outros lobisomens pudessem atacá-los naquele instante. Especialmente o de pelos negros.

////

Nuvens azuis e pouco acinzentadas ganhavam cores alaranjadas. Os primeiros raios de sol surgiram no horizonte. Pássaros cantavam por entre os galhos, sinalizando o amanhecer por entre os outros animais.

Não era diferente para a tribo da Nella. Quando o sol estava nascendo no horizonte azul, o grupo de caçadores liderados por Ulfric se preparavam para deixar as cabanas rumo à caçada na floresta. Todos os homens que vieram de longe para aquele lugar se reuniam com seus escudos de madeira, lanças e machados, com poucos adotando arcos e flechas como forma de atacar os lobisomens à distância. E no meio daquela reunião, Ulfric e Johann se dirigiam ao centro. Os aldeões saíram de suas cabanas para os afazeres do dia, com as crianças correndo para verem os caçadores se prepararem para ir à floresta.

Uma menina, com cerca de nove anos, de cabelo preto, pele branca e olhos castanhos, correu na direção de um dos homens que carregava um escudo pintado de branco e vermelho. Ela entregou para o caçador um lírio branco da neve, com o homem aceitando em seguida.

“Obrigado.” Disse o homem de cabelos pretos e barba longa, colocando o artefato de madeira encostado na perna para apanhar a flor branca.

“Sabe, você me lembrou o meu pai.” disse a menina de cabelos pretos, sorrindo para aquele homem, mesmo sendo de um lugar diferente deste.

“É mesmo?” perguntou o homem curioso. “E o que a fez pensar que eu te lembraria o seu pai?”

“Bem, ele era forte, conseguia carregar várias coisas com os ombros dele, e tinha uma barba bem grande.” sorriu a menina, sanando a curiosidade do caçador.

Meio bobo, o caçador respondeu. “Bom, garota, você meio que me lembrou uma filha minha.”

“Sério?”

“Claro. Tinha a mesma idade que você, um pouco agitada e gostava de apanhar algumas flores.” respondeu o homem, colocando a mão direita dele no ombro da pequena criança.

A menina ficou surpresa ao ouvir aquilo. Uma filha daquele caçador, que lembrava um pouco ela, a fez ficar animada em querer conhecê-la um dia, e talvez até se tornarem amigas.

“Eu quero muito conhecer ela, senhor.”

“Se eu conseguir voltar da caçada, talvez eu venha trazer a minha filha pra você conhecê-la.” respondeu o homem sorrindo, levantando-se para se reunir com os outros. Em seguida, a menina ouviu o chamado da mãe, correndo para ficar perto dela.

Ulfric e os outros caçadores seguiam pela estrada de terra e um pouco de neve, com o homem loiro na frente, guiando os demais. Johann levava nas mãos uma lança, junto um estojo repleto de flechas e um arco nas costas. Num instante, ele parou, ouvindo a voz de Dora, a mãe de Nella.

“Sim, Dora.”

“Se você ver a minha filha, por favor, traga ela de volta. Ela é tudo o que me resta neste mundo.” pediu a mãe de Nella, fechando as mãos em gesto de prece.

Johann se aproximou dela, colocando as mãos dele nos dela.

“Não se preocupe. Eu trarei a Nella de volta pra casa, nem que eu tenha que sacrificar a minha vida pela segurança dela. Assim como o Stephen faria por ela.”

Dora balançou a cabeça pra frente em gesto afirmativo, acreditando que o colega do falecido marido conseguiria encontrar a única coisa mais importante, que era a Nella, e trazê-la com segurança. Sem mais nada a dizer, ele se despede da mulher e segue com o grupo em direção à floresta.

Os demais aldeões olhavam para aqueles homens se distanciando no horizonte em direção à floresta. Diferentes cores e armas se misturavam para formar uma única coisa. No meio da multidão que ficou na tribo, o Chefe assistia os caçadores se dirigindo para o lugar na qual ele advertiu em não ir, ainda mais em interferir na Grande Viagem. Porém, com a intervenção da Anciã, o líder da tribo permitiu eles irem para procurar Nella e ajudá-la.

Os olhos dele permaneciam sérios, com os braços cruzados expressando desaprovação além da descrença de que Ulfric e os homens dele conseguiriam derrotar os Seres-Lobos, ainda mais pelo fato que eles contavam com a ajuda de Johann, o homem que quebrou a sagrada tradição da tribo ao tirar Juliet, a única filha do homem, de fazer parte da Grande Viagem.

Johann, sabemos que você cometeu uma das infrações graves que colocou esta tribo em risco. Por esta razão, você é um exilado e não deveria ter colocado os seus pés de volta neste lugar. Porém, eu permiti que você ficasse pela vontade da Anciã e dos Espíritos.” dizia o homem de cabelo grisalho e casaco de pele, mantendo aquela expressão negativa perante aquele caçador.

Johann seguia com uma expressão pacífica, embora um pouco preocupado pela segurança da jovem moça que ainda se encontra na floresta. Vários caçadores e Ulfric estavam confiantes de que poderiam enfrentar os lobisomens em quantidades esmagadoras. No entanto, independente de quantos fossem reunidos, não teriam força suficiente perante seres com força física e características sobre-humanas. O Chefe sabia muito bem disso, assim como o próprio Johann.

Seja como for, uma vez que entrar naquela floresta, você não terá a mesma chance de voltar com vida. Aquela floresta será o seu túmulo, assim será para aqueles homens que não mereciam descartar suas vidas por nós.

Sem mais nada a fazer, a figura do casaco de pele virou-se, indo em direção à cabana dele. Passava pelas ruas, por várias tendas e por entre as pessoas da tribo. Do nada, as imagens que atormentava ele voltaram. O Chefe colocou a mão na testa, tentando fazê-las parar. Porém era inútil.

Conforme ele passava pelas pessoas, ele evitava cumprimentá-los, sem pedir licença quando tinha que passar por aglomerados nem respondê-las. A maioria delas notaram o comportamento estranho e errático do líder. Mas para ele, as imagens surgiram na mente dele, com lugares e momentos em que ele esteve e outros na qual ele não esteve como ele mesmo. Eram árvores, rochas e neve, das quais são da floresta. Mas o que o atormentava eram cenas de assassinato, na qual ele sentia o sangue escorrendo por entre os dedos, a boca e o corpo.

Porém, os dedos que ele viu nas imagens não eram dedos humanos. Eram garras afiadas de uma criatura monstruosa. A boca tinha uma projeção anormal e os dentes tinham força suficiente para rasgar carne. O corpo não era revestido com vestimentas e casacos, e sim era coberto de pelos. Pelos parcialmente grossos e brancos, com um pouco de vermelho do sangue que escorria das garras e da boca.

Recuperado um pouco das imagens, o Chefe seguia em direção à cabana dele. Porém, na passagem de uma esquina para a outra, ele perdeu o equilíbrio, caindo no chão com as mãos na frente de seu rosto. Algumas pessoas que o viram cair correram para socorrê-lo.

“Chefe! Você está bem?!” perguntou o lojista de potes.

“Deixe-nos ajudá-lo.” disse uma mulher, estendendo a mão na direção do braço.

No entanto, o Chefe recuperou-se da queda, sem a necessidade de ajuda.

“Não precisa. Eu estou bem.” respondeu ele com uma expressão fria.

“Mas senhor, não quer que a gente chame a…” dizia o açougueiro, sendo interrompido pelo líder da tribo.

“Eu disse que eu estou bem. Não precisam se preocupar tanto comigo.”

O Chefe da tribo seguiu adiante até a cabana dele. A atitude e a resposta dele perante as pessoas que queriam ajudá-lo começou a levantar preocupações por entre os aldeões sobre o bem-estar emocional dele como pessoa. Isso poderia levar a resultados desagradáveis se ele continuar com essas perturbações a ponto de tirar a capacidade de liderar o povo dele.

Várias pessoas começaram a se reunir daqueles que ficaram naquela esquina. Os olhos delas expressavam preocupação pelo Chefe. Uma delas pediu a uma outra chamar a Anciã. Esta correu para a tenda dela no alto da montanha, enquanto as demais com seus afazeres, com poucos seguindo até a cabana do Chefe.

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O líder chegou no lugar para descansar. A cabana dele tinha dois andares, com os aposentos estando na parte de cima, enquanto que o salão principal na qual podia jantar ou realizar reuniões com outras pessoas ficava na parte de baixo. A aparência era modesta, com os materiais utilizados sendo da mais alta qualidade como forma de demonstrar certo grau de poder por ele ser o líder daquela tribo. O interior mostrava vários móveis e adornos, que eram invejáveis aos olhos de qualquer pessoa, como talheres de prata, pratos feitos de argila branca, pinturas com molduras de madeira dura, folheadas em ouro e tapetes feitos de animais mortos. Em sua maioria lobos.

O Chefe subia às escadas até o quarto dele. A mão direita segurava o corrimão enquanto a esquerda deslizava pelas paredes. As imagens o assombram, embora não demonstrava sinais de desorientação quando subia os degraus enquanto olhava para cima, na direção da parede de madeira.

Chegando no quarto, ele avista a cama dele. Era coberta de vários lençóis feitos de lã e pele de animais. Havia junto vários armários para guardar seus artefatos de valor e roupas. O Chefe se dirige à cama dele, sentando-se em cima dela. Sem ninguém para atormentá-lo, ele desfez do casaco, revelando uma espécie de mordida que tinha no ombro esquerdo.

A mordida foi feita por algum tipo de animal na qual ele saiu para caçar há muitos anos, perfurando a pele fina ao redor do ombro e pescoço. Era levemente avermelhado, indicando que já tinha se curado, embora que ele sentia a dor do local em certos momentos, com a mão direita subindo para massageá-lo como forma de aliviar a ferida.

Em seguida, as imagens voltaram com força total. Os olhos do Chefe se fecharam, cerrando as sobrancelhas e pálpebras pela velocidade que elas passavam na mente dele. As mãos subiram na cabeça dele, com o homem se levantando assustado e perturbado.

“De novo não…” dizia o Chefe, atormentado pelas imagens.

Desta vez, o controle sobre elas se foi. Ele tentou chacoalhar a mão esquerda em várias direções, porém não adiantou. Em seu estado perturbado, dirigiu-se aos móveis, agarrando-os para tentar se acalmar, porém o que ele fez foi jogá-los no chão com força, quebrando qualquer objeto que estivesse no quarto dele. Jogou uma caixa de madeira que continha vários sapatos contra a janela, quebrando a vidraça em vários pedaços. O som da caixa atingindo o chão assustou as pessoas ao redor.

Depois disso, o Chefe pegou os lençóis da cama, rasgando-os com força. Os travesseiros que eram estufados de pena e lá também foram destruídos pela selvageria dele. A cama aconchegante foi despedaçada por várias pisoteadas dele, com pedaços de madeira machucando as pernas, as mãos e os pés. As paredes do quarto foram arranhadas com as garras que cresceram de forma repentina. E no último instante, o Chefe jogou o armário que continha várias roupas pra fora do quarto, tombando nas escadas.

Os sons de móveis se quebrando causaram um temor por entre os aldeões. Muitos não queriam entrar para tentar acalmar o Chefe. Uma das mulheres correu para a tenda da Anciã enquanto os demais tomavam distância do local. Três homens adultos chegavam com espécies de bastões de madeira no caso disso escalar em uma possível situação perigosa para os demais aldeões. Um deles era o açougueiro que tentou ajudar o Chefe. Os outros dois eram um rapaz com cerca de vinte e dois anos, cabelo castanho-claro, caucasiano, vestindo casaco e roupas de lã; e um homem de barba ruiva, quarenta anos, caucasiano e porte físico forte.

“Devemos entrar na cabana dele e tentar acalmá-lo.” disse o jovem para os dois.

O açougueiro optou por esperar. “Não. Não sabemos se é seguro entrar lá e pedir para o Chefe parar com isso.”

“No estado em que ele está, duvido que possamos fazê-lo parar com essa loucura.” concordou o ruivo.

A situação permanecia a mesma com os barulhos de móveis se quebrando e sendo arremessados com força. No entanto, foi perdendo intensidade após não ouvirem mais nada vindo daquela cabana. Era como se ele não tivesse mais para descarregar de seu ataque de loucura. Crianças foram colocadas nas respectivas casas, com as mães e pais ficando por perto para protegê-los de um possível invasor. Algumas delas ficaram para ver onde isso daria.

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Ainda no mesmo dia, Nella se encontrava deitada no chão gelado daquela região na floresta. Atendendo a Hvit e o William durante a recuperação deles não tem sido uma tarefa fácil, especialmente para ela por estar sozinha.

No entanto, sentiu algo que a tirou do descanso sereno. Algo assustador. E quando ela acordou, levantou-se assustada. A testa dela estava suada e os batimentos acelerados.

“Nella?” chamou uma voz, vindo do lado dela. “Nella, você está bem?”

Virando para responder, era o William. Ainda estava deitado, com os ferimentos cobertos com bandagens. Os batimentos cardíacos diminuíram gradualmente à medida que ela sentiu-se segura com o garoto por perto. Ainda sim, a imagem que teve era da tribo em que ela nasceu mergulhada em desespero, com um lobisomem emergindo da cabana do Chefe, na qual tinha pelos brancos, matando várias pessoas que ela conhecia.

“Foi só um sonho ruim. Só isso.”

William se levantou, colocando-se ao lado dela, sentando-se no chão de terra e grama.

“Está tudo bem, Nella. Pode-se abrir comigo, se quiser.”

Nella virou o olhar para a fogueira ainda acesa. Ainda estava preocupada com aquilo que viu.

“Era a tribo da qual eu nasci. Vi as pessoas correndo de medo. Outras estavam no chão, sem vida e os olhos delas expressavam medo e horror.”

“E o que mais você viu nesse sonho?”

Nella estava assustada em querer falar daquilo. Os gritos das pessoas ecoavam por entre as chamas. E no meio, estava o monstro lupino branco.

“Um… lobisomem. Tinha um lobisomem que estava atacando a todos na tribo que eu nasci.”

O garoto lobisomem permitiu a Nella falar. “Um lobisomem? Na sua tribo?”

“Sim. Não era como os outros que já encontramos antes, e nem era aquele de pelos negros que matou o meu pai. Esse era grande, tinha garras afiadas, pelo branco mas banhado em sangue e olhos negros.”

Ouvindo aquilo, William ficou em silêncio por um momento. A descrição do monstro que atacou a tribo de Nella no sonho dela o deixou conturbado. Ele sabia quem era aquele lobisomem.

Nella ficou preocupada por conta do silêncio do colega dela.

“William?”

“Aquele era o Alfa. O mais forte de todos. Ele é o líder da matilha e é o nosso progenitor.”

“Progenitor?” perguntou Nella.

“Sim. Foi ele que nos concebeu os nossos poderes e esta maldição.”

Querendo saber mais um pouco da história do Alfa e da origem deles, Nella perguntou. “Como?”

Os dois viajantes permaneciam sentados no chão, com a história prestes a ser contada pelo rapaz. Hvit permanecia deitada, ainda se recuperando do impacto do golpe. Porém, estava cansada devido à idade dela e o ritmo da regeneração era lento. Já o William, teve um certo receio de contar tudo o que ele sabia sobre ele e a espécie dele para Nella. Cedo ou tarde, ele sabia que ela precisava saber.

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