The Two Survivors - Chpt 2 [Portuguese - BR]
The Two Survivors [Portuguese - BR]
Descrição:
As Duas Sobreviventes é uma série de fãs de quadrinhos e histórias, criada por Antony Bindilatti e em parceria de Priscilla2Warrior, também conhecida por Priscilla McGee. A série tem a junção diferentes histórias dos personagens das séries famosas como Claymore (marca registrada de Norihiro Yagi e Madhouse Studio) e The Walking Dead (Robert Kirkman e Telltales Games por The Walking Dead: Michonne), todos focalizando em algumas jornadas, alguma ação e alguma diversão com os personagens favoritos (e alguns menos).
O foco da história aborda duas jovens garotas: Priscila e Paige. Priscila é uma recém-formada guerreira da Organização após receber seu lugar como Número 2, e Paige é uma das sobreviventes após um apocalipse zumbi ter devastado Geórgia e transformado as vítimas em Walkers.
E quando as duas sobreviventes se encontram, uma longa e incansável viagem começa e elas terão de lutar para sobreviver.
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Capítulo 2
Três horas se passaram após Paige e Priscila terem deixado o hospital. A situação parecia ter se acalmado ao estarem longe daquele lugar infestado de zumbis.
Entretanto, era um mundo desconhecido lá fora. As duas estavam sozinhas em meio a uma imensa cidade deserta, sem um lugar adequado para se abrigarem, sem comida apropriada para reporem suas forças consumidas durante a fuga e sem alguém que pudessem conhecer para ajudá-las. Apenas para encontrar nada.
A jovem garota da camisola olhava ao seu redor por algo que pudesse ser sinal de abrigo ou de sobreviventes. Em meio ao seu olhar, via a sua nova amiga e guardiã desbravando o caminho adiante.
“Ei…” chamou ela para Priscila.
Ao ouvi-la, a guerreira parou por um momento para conversar.
“Sim, Paige?”
“Sabe, lá no hospital… eu, nem sei como te agradecer por você ter aparecido e por ter me salvado dos zumbis.” respondeu a garota nervosa.
Priscila sorria para ela. “Tá tudo bem, Paige. Fico feliz também por você estar viva a fim de me ajudar a encontrar alguma coisa neste mundo.”
“Ajudá-la a encontrar alguma coisa neste mundo”? Do que ela se referia com “alguma coisa”?
“Desculpa, mas, que tipo de coisa você procura?” perguntou Paige.
“Eu não sei o que seria. Mas ao que me parece, seria um caminho para eu voltar pro meu mundo.”
“Seu mundo? Tipo, o lugar de onde você mora?”
“Isso mesmo.”
“E… como esse mundo de onde você veio se parece?” perguntou Paige curiosa, sem ter tido uma resposta completa lá no hospital.
Diante da pergunta de Paige, Priscila estava para respondê-la até que, sentiu algo pairando no ar. Para ela, parecia sinal de perigo iminente.
“Paige, sei que tem várias perguntas. Mas agora eu não posso respondê-las.”
“O que foi? Mais zumbis?”
“Talvez. Ou talvez algo a mais. Precisamos ir.”
Sem tempo a perder, Paige continuou sua jornada ao lado de Priscila. Por mais que precisavam ir adiante, a viagem ficava cada vez mais exaustiva, muito ainda quando se trata de achar abrigo para se protegerem dos zumbis.
////
As duas sobreviventes chegavam numa loja da cidade em que estavam. Tudo o que puderam encontrar foram algumas bolachas, cereais e alguns enlatados. Não era muita coisa, mas era o suficiente para alguns dias. Além disso, costumava vender algumas roupas, artigos esportivos e até de caça.
Enquanto Priscila foi checar por alguma bolsa ou algo para transportar seus suprimentos, Paige avistou algumas roupas numa bancada. Ela continuava com aquela camisola hospitalar que usava após a cirurgia de extrair a bala em seu peito. No que ela olhava naquele móvel, Paige selecionou algumas peças do conjunto das quais chamaram a sua atenção para vestir. Uma calça bege, uma camisa branca de manga longa com algumas partes em verde, uma camisa escura de manga curta, um par de sapatos e algumas peças de roupas de baixo foram os que ela escolheu para vestir.
Sua amiga se aproximava dela com algumas porções de comida. Quando entrou na loja de roupas, Paige retirava a camisola de seu corpo, revelando a atadura que cobria a cicatriz da cirurgia.
“Priscila!” espantou Paige. Como reação, colocou sua mão para cobrir sua púbis.
A guerreira examinava seu corpo. Estendeu sua mão no local da sutura coberta pelas bandagens de primeiros socorros, o que desencadeou um certo receio na outra.
“O que você está fazendo?!” perguntou ela espantada.
“Está tudo bem, Paige. Não vou fazer nada de ruim pra você. Além disso, sou uma garota, como você. Não há razão para isso.” respondeu a guerreira ao colocar sua mão naquela região do corpo de Paige.
“Por acaso, você não é… lésbica?” perguntou Paige enquanto engolia seco de nervosa e se relutava em deixar a Priscila examiná-la.
“Lésbica? O que é isso?” perguntou Priscila sem saber o que aquilo se tratava.
“É quando… duas garotas ficam muito… próximas intimamente e… rola uns lances entre elas. Você… é?”
“Eu, não.” respondeu ela um pouco nervosa. “Na verdade eu só vou examinar a sua ferida. Não há nada a mais que eu tenha por você, exceto a sua segurança e bem-estar.”
Aquela resposta deixou Paige acalmada. Diante disso, deixou sua amiga examinar a cicatriz quando ela cortou um pedaço das bandagens e retirá-la de seu corpo. E o que pode ver era fios de metal mantendo aquele corte fechado até estar cicatrizado por completo.
Priscila pressionava seus dedos naquele lugar, causando um leve susto na sua amiga. A sensação que teve foi súbita, mas foi se acostumando ter a Priscila como alguém para confiar. Concluindo o exame, a mão da guerreira se desprendeu daquela região.
“Então? Como foi?”
“Bom, o machucado está quase fechado. Mais um dia e você não precisará disso.”
“Você é… médica?”
“Não. Mas devido às habilidades, posso sentir como os outros estão. Se eu tivesse meios para curar as feridas de outros, eu não seria uma guerreira de porte ofensivo.”
“Ofensivo?”
Diante daquela pergunta, Priscila retirou sua espada da transportadora para mostrar o cabo de sua espada. Paige, enquanto estava para se vestir com as roupas selecionadas do balcão, prestava atenção na Priscila.
“Nós na Organização, recebemos uma posição como guerreira conforme as nossas habilidades. As guerreiras ofensivas, dotadas de força física para utilizar golpes esmagadores ou agilidade para manobras acrobáticas, recebem uma espada de cabo vermelho. As guerreiras defensivas, dotadas de habilidades regenerativas ou maior resistência física, carregam espadas de cabo verde.”
“E a sua? O que o azul representa?” perguntou Paige enquanto vestia o sutiã e a calça bege.
“Esta espada é dada para as guerreiras de Dígito Único. As melhores e as mais fortes da Organização.”
“As mais fortes? E como assim Dígito Único?” perguntou ao vestir a camisa preta.
“Atualmente, consistimos das guerreiras do posto Número 1 ao 47. Do primeiro ao décimo, somos classificadas como Dígito Único. Por esta razão, nossas espadas devem ser de cabo azul. Depois da Número 11, cada uma recebe uma espada conforme sua ordem, defensivo ou ofensivo.”
Por fim, Paige vestiu a camiseta de manga verde e branca.
“Como guerreiras, é nosso papel de proteger os humanos dos Yomas, em troca do acordo que temos com eles. Da nossa fidelidade com os humanos que prezamos muito em protegê-los.”
Por mais que a sua última conversa não tenha sido de há muito tempo, Paige recordava dela ter mencionado o nome Yoma. Mas o que realmente são esses “Yomas”?
“Yomas? O que são eles?”
“São nossos inimigos mortais e o pesadelo dos humanos. Atacam por meio das sombras, se alimentam das tripas e cérebros de humanos e se passam por eles para atacar outros. Humanos não conseguem distinguir Yomas do resto da população humana, mas nós podemos.”
“Como?”
“Por causa de nossas habilidades. Como podemos sentir a presença de um Yoma por entre os humanos, cabe a nós de despachá-los para manter a paz e a segurança deles dos monstros que caçamos.”
Paige estava surpresa e chocada por ouvir da Priscila a história sobre os Yomas. Ela espera que não haja um bicho desses em seu mundo. Já que os zumbis são assustadores o bastante, imagine um Yoma se passando por humano, vagando nesta cidade deserta em busca de carne humana.
Sem mais demoras, a guerreira guardou sua espada de volta na transportadora e se prepara para andar novamente.
“Bom, por hoje é isso. Sei que tem mais perguntas que queira fazer, mas receio que não podemos ficar paradas por muito tempo.”
A jovem Paige concordou com a guerreira. Concluindo a conversa, foram a procura de outras coisas que pudessem aproveitar em sua jornada pela sobrevivência. Deixando a loja de roupas, passaram pela loja de artigos de caça. A maioria dos rifles de caça eram de fábricas notáveis como Remington, Winchester, Ruger, Mauser e algumas da antiga Springfield Armory. O que podia ter também era algumas pistolas e armas de pressão com a finalidade para defesa pessoal e treinamento de tiro ao alvo.
Priscila não viu interesse em pegar alguma arma de caça ou de pressão para contar além da espada, mas Paige optou um rifle de caça Marlin Modelo 25, de ferrolho manual; e uma pistola Colt M1911. Mesmo não tendo algum treinamento militar para porte de armas, Paige pressentia que poderia derrubar alguns zumbis. Ao ver a Priscila olhando para as bancadas, resolveu chamá-la.
“Priscila, você não pensa em pegar alguma pistola ou rifle de caça?”
“Não. Eu, não me daria bem com uma dessas.”
“Mesmo que pudesse enfrentar os zumbis com sua espada poderosa, não sei se por situação, surja números imbatíveis que possam te sobrepujar e suas habilidades.”
“Em todo caso, vamos torcer que sejam uma situação imaginária.”
As duas sobreviventes já estavam com suas bolsas e armas preparadas para partir. Não havia mais nada que pudessem levar das lojas, e de lá foram desbravar o exterior.
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De volta no lado de fora da cidade, Priscila e Paige retomavam sua jornada pela sobrevivência. A situação atual permanecia calma, porém a guerreira pressentia que a qualquer momento poderia surgir alguma emboscada.
Casas e prédios vazios, lojas e mercados arrombados, becos imundos por latões de lixo tombados e ruas repletas de carros parados e papéis caídos no chão. Paige continuava assustada só de olhar pra aquele ambiente assombrado. Priscila permanecia em estado de alerta, na espera de surgir zumbis ou algo aterrorizador que possa emboscá-las.
Ao cruzarem com uma avenida, um vulto surgiu do lado esquerdo, correndo para o estacionamento, um dos principais pontos de referência deste lugar.
“Priscila?” chamou Paige surpresa.
“Sim, Paige. Eu vi. E está correndo para o estacionamento.”
“Você acha que é um sobrevivente?”
“Não sei. E também não parece ser um zumbi pelo comportamento de seus passos.”
As duas mantiveram seu olhar na figura fugitiva em direção àquele lugar.
“Será que podemos investigar aquele lugar, pra ver aonde a fugitiva vai?” perguntou a jovem sobrevivente com o fuzil na mão.
“É arriscado, Paige. E não podemos perder tempo com investigações. O sol vai se pôr mais rápido a medida que desviarmos do nosso objetivo.” apontou Priscila para o horizonte do sol poente. E como a atividade de zumbis ficaria mais ativa no meio da noite, seria arriscado demais para as duas ficarem em zona desabrigada, enfrentando as criaturas mortos-vivos até sucumbirem.
“Mesmo que possamos perder algum tempo, poderemos ter ajuda de sobreviventes se pudermos encontrar um.”
Priscila suspirava de desconforto. Ela se preocupava bastante pela segurança de Paige. Entretanto, a guerreira sabia que outros sobreviventes poderiam ajudá-la com a busca daquilo que possa o caminho para o seu mundo.
“Vamos, Paige. Iremos até onde a nossa figura sombria vai parar.”
Priscila e Paige foram de atrás daquilo que surgiu em seus olhos, rumando para o estacionamento desta avenida. O lugar parecia pequeno da posição em que elas estavam, mas a medida que se aproximavam ficava cada vez maior. E tudo o que podiam avistar de lá era alguns pedaços de concreto no chão, teto esburacado e alguns carros caídos no chão. A iluminação do lugar variava de um ponto ao outro. Algumas lâmpadas estavam quebradas, outras piscavam e algumas permaneciam acesas.
As sobreviventes avançavam no interior do estacionamento, passando ao lado de uma van com um farol aceso. Priscila sentia que a chance das coisas piorarem aumentaria quando forem mais ao fundo daquele lugar arruinado. Diante disso, colocou sua mão direita no cabo de sua espada. Paige, que olhava ao redor dela e de sua amiga, mantinha seu rifle erguido.
No próximo passo que deram, escutaram o som de uma porta de carro se fechando. Elas pararam por um instante para procurar a fonte do barulho. Andaram em direção a uma frota de carros abandonados na direita, acreditando que a fonte do barulho veio por entre um deles. Paige ergueu seu rifle para o alto enquanto andava, e Priscila sacava sua espada da transportadora. Um dos carros manteve as luzes acesas, coisa que poderia ser arriscada caso alguém queira se esconder de assaltantes. E quando elas se aproximaram de lá, uma surpresa.
“Não! Não nos machuque!” disse uma voz de mulher assustada.
Era uma mulher com aproximadamente 39 anos, pele rosada, cabelos longos de cor castanhos escuros. Vestia uma blusa vermelho-salmão com um jeans azul-escuro. Parte de seu rosto estava manchado de sujeira, sinal que tinha caído no chão por alguns momentos. E em seus braços, estavam dois meninos, com idades entre 14 e 16 anos. O da esquerda tinha cabelos castanho-claro, camiseta branca com borda azul e calça cinza. Este parecia ser o mais novo deles. E o da direita era castanho-escuro, usava óculos corretoras, camiseta verde lima com bordas verde-escuro e calça marrom. Este parecia ser o mais velho. Ambos possuem pele rosada como da mãe.
As duas garotas ficaram espantadas por vê-los com vida. Aparentemente, devem ter sobrevivido ao apocalipse zumbi, da mesma forma que a Paige. Mas, como foi que conseguiram parar neste estacionamento esquecido?
“Por favor, não nos machuque! Só estávamos procurando por comida e não sabíamos que tinha gente lá na loja.” disse o menino mais novo.
Olhando uma pra outra, resolveram guardar suas armas. “Tá tudo bem. Não vamos machucar vocês.” disse Priscila ao acalmá-los.
“Somos sobreviventes, como vocês.” completou Paige.
Ouvindo aquelas vozes confortantes, aquela família se acalmaram e aos poucos foram se levantando do chão.
“Vocês são… são garotas?” perguntou a mãe dos meninos.
“Sim, nós somos. Eu sou Paige. Esta é minha amiga e guardiã, Priscila.” introduziu-se a jovem sobrevivente e a amiga.
“Eu sou… Alice. Estes são Andrew e Mark.” introduziu a mulher sendo chamada de Alice e os seus filhos pela ordem da direita pra esquerda. “Achamos que fossem assaltantes ou aqueles zumbis andantes.”
“Ah-hã.” negou Priscila. “Estávamos procurando por abrigo, comida e meios para nos defender. Até avistarmos alguém se dirigindo pra cá.”
“Este fui eu.” respondeu Mark. Pela idade e aparência, contava uma vantagem por correr mais longe do que sua mãe ou do irmão. “Fui procurar por comida lá naquela loja em que vocês estavam. Mas, quando vi vocês na loja de armas, fiquei espantado que fossem assaltantes.”
“Ah não. Não somos. Só precisávamos de comida e armas para nos defender.” respondeu Paige.
“Vocês possuem alguma arma para se defender?” perguntou a guerreira para eles.
“Não. Não temos.” respondeu Andrew.
“Eu não gosto da ideia de tirar uma vida, mesmo que fosse para autodefesa.” respondeu Alice.
“E também, você não gosta de que o Andrew venha fazer parte do Exército assim que chegasse à maioridade.” comentou Mark.
Ouvindo aquilo, a mãe não gostou da forma de como seu filho mais novo falou a respeito do seu irmão em querer ser soldado do Exército. “Mark! Que rude de você! Perdoe o meu filho. Ele não disse por mal.”
“Sem problemas.” respondeu Paige.
“Mesmo assim, papai gostaria que fosse assumir este papel para proteger este País de qualquer mal.” disse Andrew.
“Andrew, já falei de que eu não gosto de ver você com um fuzil na mão!” zangou ela.
“Só uma pergunta. Você é de algum grupo de religiosos que é contra o porte de armas?” perguntou a jovem sobrevivente.
“Na verdade, eu fazia parte de uma comunidade que preza na harmonia e união de pessoas, sem que recorra intervenções ou atividade de forças armadas.”
“Parecem até os grupos hippies.” comentou Mark associando o antigo movimento de ativistas contra o intenso alistamento militar americano durante a Guerra do Vietnã.
“Mark! Me desculpem pelo comportamento dele.”
“Sem problemas, Alice.” respondeu Priscila, mesmo sem saber do que tratava por ela ser de outro mundo.
E no mesmo instante, ela pressentiu algo se aproximando deles. Especificamente, a mãe dos meninos. Numa impressionante velocidade, ela sacou sua espada e lançou ela por cima do ombro direito de Alice. E o alvo atingido por ela, tratava-se de um zumbi que estava para avançar nela e morder seu pescoço.
“Mãe!” gritou os meninos assustados.
Alice ficou espantada por ver aquela incrível velocidade de reação da Priscila. Felizmente, sua vida foi salva por aquela garota espadachim. E quando ela retirou sua espada da cabeça do zumbi, o agressor caiu duro, como um boneco de tralhas no chão.
“Todo mundo, vamos sair daqui!” chamou Priscila.
Os sobreviventes saíram correndo para longe do corpo. O lugar começou a ser infestado de novos zumbis a medida que eles passavam por vários escombros e carros caídos. Dos andares superiores, dos arredores e do chão, os monstros mortos-vivos surgiam para cercar e perseguir aquele grupo. Quando alguns se levantavam próximos dos sobreviventes, Priscila dilacerava as cabeças com sua espada.
Chegando perto da entrada para o estacionamento, as duas sobreviventes se espantaram pelo céu estar alaranjado com azul cobrindo do alto. Isto significa que o crepúsculo chegou. E como a noite chega ser um adversário onipotente de ser confrontado a custo de repouso, a única opção era encontrar um abrigo temporário em meio ao estacionamento.
Paige avistou uma porta de emergência para os níveis inferiores daquele lugar. O que daria para ser um abrigo temporário à prova de zumbis.
“Por ali! Vamos!” chamou ela.
Priscila e a família foram com a Paige até a porta correndo. Durante a fuga, foram derrubando alguns zumbis no caminho a fim de segurarem com segurança. A sobrevivente com o rifle conseguia acertar alguns tiros na cabeça, enquanto a espadachim cortava os outros naquele ponto fraco. Andrew, Mark e Alice corriam o mais depressa que podiam até a porta. E quando chegaram, abriram a porta para todos entrarem e fechar de vez, privando os zumbis da única passagem para alcançá-los.
O grupo conseguiu chegar com segurança. Fecharam a porta com algumas hastes e barras de metal para trancá-la e segurar os monstros de atravessar. Por mais que eles tenham um pouco de sua antiga capacidade de raciocinar, levaram tempo para arrombar a porta e atravessar. Foi o suficiente para o grupo escapar com vida e correrem para uma espécie de armazém da equipe de limpeza e zeladoria do estacionamento.
Entrando, os meninos se sentaram no chão, Alice colocou sua mão direita na parede com a outra no coração, Paige e Priscila ficaram de pé para se recuperar da fuga.
“Ainda bem que conseguimos escapar.” disse Paige aliviada.
“Nem me fale.” concordou Andrew.
“Bom, essa passou perto. Estou surpresa pela sua espada não ter passado na minha cabeça.” disse Alice ao se levantar e olhar para a Priscila. “Ao menos, obrigada por salvar a minha vida e a dos meus filhos, Priscila.”
“De nada. Eu não queria que aquele zumbi fosse te atacar pelas costas.” respondeu a guardiã.
“E agora, o que faremos?” perguntou Mark.
“Agora é esperarmos até o amanhecer e conseguirmos achar um meio de sair daqui.” respondeu a guerreira.
“Mas nós não podemos sair daqui enquanto temos chance?” perguntou o filho mais velho.
“É arriscado, Andrew.”
“Sem falar que os zumbis possam nos perseguir no meio da noite. Por esta razão, precisamos descansar enquanto estamos abrigados.” completou Paige.
“As garotas estão certas, Andrew. Vamos esperar até amanhã e torcer para que aqueles monstros não estejam mais lá.” falou Alice.
“Tá certo, mãe.”
“Sim, mãe.” disse Mark.
“Bom, vamos dormir? Eu vou arrumar o lugar adequado para vocês se deitarem.”
Os dois meninos foram com a Alice até um lugar do armazém para dormirem. Poucos de deitarem, Paige foi abrir sua bolsa para retirar alimentos. Feito isso, ela chamou aquela família.
“Ei. Vocês querem comer alguma coisa?” ofereceu ela.
Com um pouco de fósforo e velas, Alice acendeu algumas para iluminar o armazém. Paige e Priscila retiraram um pouco de comida e água para repartir com eles. Os meninos não perderam um segundo ao irem até elas e receberem um pacote de bolachas e latas de comida. Alice, embora não demonstrar interesse pelos enlatados, aceitou pelo menos, como sinal de bom grado. Aquilo que elas puderam repartir com aquela família foi o suficiente para alimentá-los nesta noite antes de dormir. Como Priscila não conseguia comer muito devido ao seu porte físico de Claymore, deu a maior parte da sua refeição para Paige.
“Ué? Você não está com fome, Priscila?” perguntou Paige.
“Não. Eu não como da mesma forma que você.”
“Não? Mas então, como você recupera as suas forças com um pouco de comida?”
“Eu consigo passar vários dias sem comer e sem beber. E o tanto que eu posso comer é pelo menos, uma ou duas mordidas.”
“Parece que você veio de um país que passa a maior parte do tempo sem comer.” disse Andrew.
“Andrew.” chamou a mãe dele.
“Por aí. Mas é justamente isso.”
“Ei Alice, você não vai comer?”
“Eu não costumo comer muito enlatados ou bolachas.”
“Imagino que a comunidade que fazia parte não aceitem uma refeição desse tipo.” disse Priscila, imaginando que a comunidade que ela fazia parte fosse contra a alimentos industrializados.
“Não. Na verdade eu estou acostumada com comida que eu gosto de preparar.”
“Humm, comida que mãe prepara costuma ser saborosa de verdade.” comentou Paige.
“Sem dúvida.” respondeu a mãe dos meninos. Em meio ao olhar de risos, mudou para uma leve tristeza. “Mas agora, sem casa para morar, sem utensílios para preparar comida, teremos isto para nos mantermos vivos.”
Paige se sentou diante dela enquanto comia. O sabor de massa misturada com água e sal descia em sua garganta conforme digeria aquela porção da bolacha. E ao engolir, retirou uma garrafinha de água para beber.
“Bons tempos foram aqueles. Tempos em que não havia essas coisas de zumbis, gente desaparecida ou morta e cidades fantasmas.”
“Ei Alice, antes de nosso encontro lá no estacionamento, como você e seus filhos conseguiram sobreviver neste mundo repleto de zumbis?”
Aquela pergunta pegou a mulher de surpresa. Ainda triste pela sua experiência decorrente do apocalipse.
“Antes do apocalipse, meu marido e eu… costumávamos ser uma família unida. Andrew nasceu no dia que eu completei 23 anos. Depois, Mark veio quando eu tinha 25 anos. Era uma época de pura felicidade e prosperidade que nós tínhamos.”
“Mas depois disso, tudo mudou.” continuou Andrew.
Priscila virou seu olhar para eles. “O apocalipse zumbi?”
“Sim. No começo, achei que fossem aqueles personagens dos jogos bobos dos amigos de Andrew. Mas, quando os noticiários anunciaram que um estranho surto de doença começou atacar os hospitais e necrotérios, pessoas de diversos cantos da cidade adoeceram e começaram agir de forma estranha. Como se elas não fossem mais elas mesmos.” respondeu Alice.
“E quando o papai chegou mais cedo do serviço, ele chamou a gente para deixarmos a casa rapidamente.” disse Mark.
“Serviço? No que o seu pai trabalhava?” perguntou Paige.
“Ele era delegado. Trabalhava com a polícia local de Atlanta. Ele queria que os meus filhos fossem um dia servirem o Exército dos Estados Unidos, mas eu sempre fui contra a ideia dele.” respondeu a mãe dos meninos. “Mas numa noite, quando estávamos fugindo de casa para procurar abrigo, avistamos três pessoas que estavam nos perseguindo. Elas estavam fora de si, agindo e se comportando de forma estranha.”
“O pai fez de tudo para garantir a nossa segurança, e quando ele tropeçou no chão…” dizia Andrew, até que Alice o interrompeu para completar.
“… pediu para que nós corrêssemos até o abrigo sem ele. Começou a atirar nos zumbis que vinham, mas… foram muitos para conter. Só pudemos ouvir os sons de tiro de sua arma, e… seus gritos de dor. Depois que tudo parecia ter acabado, pessoas que estavam no mesmo abrigo que nós tomaram a atitude de sair para conseguir comida e um outro abrigo. Até que, nunca mais voltaram. Apesar de tudo, tentamos seguir adiante. Saímos para procurar por ajuda e suprimentos, mas não tivemos sorte.”
“Até que encontramos vocês.” completou Mark.
Paige sorriu para ele. “Sim Mark. Você nos encontrou lá na loja para caçadores.”
“E vocês? Também estão nessa luta pela sobrevivência. O que faziam antes do apocalipse?”
“Eu protegia os humanos numa aldeia do mundo que eu vim.” respondeu Priscila.
“E eu estava internada no hospital da região.” respondeu Paige.
“Internada? O que aconteceu com você, Paige?” perguntou Alice surpresa.
“Eu fui baleada no peito. Agora, o que eu fazia… não consigo me recordar ao certo.” respondeu a garota, apontando para onde está a cicatriz da cirurgia. “Quando acordei, o hospital estava infestado de zumbis, e eu precisei correr para a saída. E foi lá que eu conheci a Priscila.”
“É uma história e tanto.” disse Andrew.
“Sim.”
“E… por curiosidade, vocês sabem de algo que seja um tanto… diferente do comum?”
“Como assim ‘diferente do comum’?” perguntou Alice.
“Eu estou à procura de uma coisa que possa ser um meio de voltar para o meu mundo. Sabem de algo parecido?” disse Priscila.
A família respondeu que não sabiam de algo que a Priscila tinha dito. Meio tempo, Andrew comentou que ajudaria a guerreira da melhor forma que puder. Mark bocejou de sono e quase fechava seus olhos. Alice o abraçou.
“Bom, agora é hora de descansar. A comida estava boa, valeu Priscila e Paige. Precisamos dormir para estarmos prontos para retomar a nossa jornada.” chamou Alice.
Andrew e Mark se deitaram no colo da mãe deles. Priscila retirou sua espada da transportadora para enfiá-la no chão e colocar suas costas na lâmina para dormir. Feito isso, as outras estranharam o jeito que ela foi se deitar. Paige se deitou no chão para dormir.
////
Dez minutos se passaram quando o grupo adormeceu. Paige abriu seus olhos levemente, sentindo que não conseguia pegar no sono depois daquela história. Levantou um pouco para certificar de alguma coisa. E quando olhava para a Priscila, resolveu chamá-la.
“Priscila. Priscila.” chamou ela.
A guerreira abriu seus olhos ao ouvir a voz da garota.
“Paige? O que foi? Não conseguiu pegar no sono?”
“Eu… eu preciso falar com você sobre uma coisa.”
Priscila se levantou do chão para conversar com a Paige. Foram para um canto do armazém, passando pela mulher e seus filhos adormecidos. Ao chegarem na parede, elas colocaram suas costas a fim de apoiá-las naquele lugar. Paige olhava para sua amiga enquanto se acomodava.
“Diga Paige. Imagino que tenha a ver como vamos sair daqui.”
“Quase. Mas é mais relacionado com eles.” disse ela a respeito da família.
“Como assim?”
“Você disse que estava procurando por algo que seja um meio de voltar pro seu mundo. Mas não conhecem ao certo o que seria. Muito ainda nós duas.”
“Certo. Isso é verdade. Mas, aonde você quer chegar?”
“Precisamos achar um lugar adequado para eles se abrigarem. Não podemos deixar eles se machucarem em nossa jornada pela sobrevivência.”
“Mesmo que fôssemos deixá-los para um lugar seguro, que chance terão caso aconteça alguma coisa de ruim no meio do caminho?”
“Eu sei, Priscila.”
“E mesmo que tenha um lugar que seja seguro de verdade, sem zumbis, para onde você acredita que seja seguro?”
“Talvez eu saiba onde.” disse uma voz que chamou a atenção delas.
Ao virarem pra ver, a dona da voz era a Alice. Ela deve ter acordado quando as duas começaram a conversar a respeito de um lugar para onde seria seguro para ela e seus filhos.
“Alice?” perguntou Paige.
“Não estava dormindo com seus filhos?” perguntou Priscila.
“Eu ouvi que vocês estavam conversando sobre um lugar adequado para os meus filhos e eu. Talvez eu possa te ajudar com isso.”
As duas garotas trocaram olhares, uma com a outra, e depois retomaram a atenção na mulher adulta.
“E aonde você acredita que seja mais seguro?”
“No sul.” respondeu a mulher com um mapa na mão que havia retirado de sua bolsa. “Eu imagino que o apocalipse não tenha se alastrado até o sul. Como as rotas marítimas e aéreas estão limitadas para o pessoal autorizado e estranhos não são bem recebidos sem um passe apropriado, acredito que indo de carro pela rodovia principal e atravessarmos a fronteira com o México seja o suficiente para sairmos deste país.”
A respeito da escolha de Alice para um lugar seguro a fim de conseguir abrigo para ela e seus filhos, Priscila e Paige olhavam uma na outra. Com aquela sensação de que haja uma chance desconhecida de que o apocalipse não tenha se alastrado até o sul, do México para os países da América do Sul.
“Você acredita que lá seja seguro para vocês viverem?” perguntou Priscila.
“Mas é claro que sim, Priscila. Afinal, tenho tudo em ordem para sairmos daqui.”
“Com que carro e para onde no México?” perguntou Paige.
Diante daquela pergunta, Alice ficou meio quieta. A forma de como a sobrevivente perguntou parecia questionar as capacidades da mulher de poder tirar seus filhos desta cidade, mesmo que uma boa parte seja inexistente.
Paige, embora tenha adquirido uma porção de experiência de sobrevivência através da Priscila, em comparação ao dela que ficou um bom tempo se escondendo dos zumbis, sentia algo no plano de Alice que poderia não dar certo. Como poderia ter certeza de que o Sul não foi realmente afetado? Em compensação, a mulher sorriu sem demonstrar muita indiferença.
“Eu sei que tem muitas perguntas a respeito das minhas capacidades e de como sairemos daqui. Mas não se preocupe. Assim que amanhecer, direi tudo a vocês como vai ser feito.” disse ela sorrindo. Ao olhar para seus filhos, relembrou que ainda estava de noite e que precisavam descansar depois da fuga. “Podemos voltar a dormir? Boa noite, meninas.”
Alice retornou para onde estavam Andrew e Mark para se realojar e dormir. Paige continuava a acreditar que aquela resposta não era o suficiente. Quando Priscila notava aquela sensação na outra, resolveu chamá-la.
“Paige, você acha que ela esteja escondendo alguma coisa de nós?” perguntou a guerreira sobre aquela conversa com Alice.
“Eu não sei ao certo. Mas sinto que ela tenha mais coisas. Só não sei se ela quer contar tudo de vez para nós.”
Olhando um pouco para eles, Paige se perguntava. Como eles poderão viver com tudo isso, sendo que existe a possibilidade de não conseguirem encontrar aquilo que esperavam encontrar?
“Paige, eu sei que está preocupada por eles. Eu também. Só não sabemos se os rumos poderão continuar numa única direção.”
“E pra onde, Priscila?! Eu não sei se o México ou qualquer outro lugar daqui esteja seguro para todos nós!” disse Paige, erguendo um pouco o tom de sua voz.
Priscila pediu para ela silenciar-se um pouco. Mark virou-se um pouco enquanto dormia. Ainda não acordou, o que aliviou as duas. E também precisavam garantir para que nenhum zumbi escute uma voz alta e seja atraído por ela.
“Paige, você está preocupada demais por eles. Eu sei. Mas não precisa se exaltar. Olha, vamos conforme o que a Alice planejou e torcer para que estejam certos. Tá bem? Bom, sem mais nada para falar, precisamos voltar para nossos cantos de descanso.” concluiu Priscila.
A última retornou a sua espada enfiada no chão, apoiando sua costa na lâmina para dormir. Paige continuava inquieta com o destino deles. Ainda sim, resolveu se deitar no chão e dormir.
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Dia seguinte, o sol se erguia no horizonte sombrio da noite. Aquilo que estava coberto pelas sombras dos prédios e casas foi se minguando pela luz. E partes do estacionamento foram iluminadas pelo sol, revelando uma contingência de zumbis. Alguns perambulavam por entre os carros e corredores. Outros estavam parados, sentados ou de pé à espera por alguma presa.
Paige continuava deitada no chão, repousando quieta. Em meio ao seu descanso, Andrew e Mark chegavam para acordá-la. O mais novo deles estendeu sua mão no ombro dela, enquanto o mais velho se aproximava de sua orelha para chamá-la.
“Paige. Paige, acorda.” chamava Andrew no ouvido da garota adormecida. Mark cutucava ela no ombro.
Com aquele toque e a voz fluindo por todos os sentidos de seu corpo, Paige se despertava vagarosamente do seu sono, bocejando e erguendo seus braços para o alto.
“Uh, Mark? Andrew? O que… o que houve?” perguntou Paige enquanto despertava.
“Priscila pediu para todo mundo acordar.” respondeu Andrew.
“Aqueles zumbis de ontem começaram a invadir os corredores, e não falta muito para chegar aqui.” completou Mark.
Ouvindo aquilo, seus olhos se arregalaram de medo e foi se levantar para pegar o rifle de caça e ir até a porta, onde a Claymore se encontrava. Chegando da guerreira, encontrou com a Alice. Ela estava encostada na parede, atrás da Priscila para se proteger caso os mortos-vivos atravessem a porta e infestem aquele armazém dos faxineiros. Seus filhos se reuniram com ela após acordarem Paige.
Paige se aproximou de Priscila enquanto a mesma segurava sua espada, esperando pro primeiro ataque dos zumbis.
“Priscila?” chamou Paige com o rifle de caça.
“Os zumbis atravessaram a porta do estacionamento e estão vagando pelos corredores.”
A sobrevivente olhava para Alice e seus filhos, depois para a porta. Priscila permanecia quieta com a espada em prontidão.
“São quinze deles. Quinze zumbis vagando nos corredores.”
“Quinze? Como você sabe disso?” perguntou Paige surpresa pela sua guardiã saber a quantidade deles.
“Tem um pequeno buraco na porta. É o suficiente para vê-los.” respondeu ela largando um pouco da porta, permitindo a Paige a chance para poder ver.
Indo ao canto usado pela outra, a garota viu aquele pequeno grupo de zumbis vagando sem rumo fixo no corredor.
“E agora, o que faremos?”
“Eu posso canalizar o meu Yoki para as minhas habilidades e derrubar aquele grupo de uma só vez.”
“Yoki? O que é isso?”
“É a energia que eu possuo para usar minhas habilidades. Além de mim, as guerreiras da Organização, os Yomas e os Despertados, possuímos Yoki e utilizamos ele para enfrentar incontáveis adversidades em combate.”
“Tá. Não sei se eu consegui entender tudo de uma vez, mas, será que podemos sair daqui caso tenhamos derrubado eles?” perguntou Alice enquanto se aproximava das duas.
“Mesmo que as outras levas de zumbi venham de vários lados, teremos uma chance de escaparmos assim que o caminho até ao estacionamento estiver limpo.” respondeu Priscila.
No lado de fora, o grupo de zumbis continuavam no corredor à procura de algo vivo para se alimentarem. E quando ouviram a porta se abrindo, ficaram atraídos pelo som e da garota que chegava com a espada na mão. Sem um minuto de espera, as criaturas corriam em sua direção para atacar.
Calmamente, Priscila fechava seus olhos enquanto vinha de encontro com aquela correnteza. Num instante, tornou a abri-los e uma intensa onda de energia emanava de seu corpo, e num espantoso ato, saltou para frente. Os corpos dos zumbis foram destroçados em vários pedaços e suas cabeças dilaceradas ao meio.
Paige e os outros ficaram espantados de ver o incrível avanço da guerreira em eliminar aquele grupo. A guerreira virava-se para vê-los, e ao espanto de todos, os olhos dela não eram mais prateados como antes, agora eram dourados e suas pupilas tinham um formato similar à de um felino. Além disso, havia algumas veias saltadas em seu rosto.
“Priscila?” chamou Paige assustada.
A guerreira fechou seus olhos novamente. Desta vez, as veias de seu rosto sumiram e ao tornar abri-los outra vez, a cor voltou para prateado.
“Está tudo bem, Paige. Precisamos ir.” disse ela.
O grupo saiu correndo até a saída, em direção aonde os carros e veículos estavam estacionados. Priscila permanecia na frente para abrir caminho, Paige ficava no meio e algumas vezes atrás da Alice e filhos.
Durante a fuga, a Claymore olhava um pouco para cima enquanto corria. Pressentia um pouco de movimentação dos andares superiores, o que poderia ser preocupante caso sejam atacadas do alto. Retomando o olhar para frente, foram surgindo alguns zumbis da porta para as escadas. E pouco antes de alcançarem a saída, Paige apontava e atirava com seu rifle nos mortos-vivos. Parou para conseguir maior controle do recuo dos disparos. Por sua vez, Priscila dilacerava seus adversários com sua espada.
Os sobreviventes atravessaram o grupo de mortos-vivos dos corredores até a saída para o estacionamento. Quando os outros as viram saindo, começaram a correr gritando em direção de suas presas, sendo dilacerados em seguida pela espada de Priscila. Paige atirava na cabeça de outros zumbis que vinham da sua esquerda.
“Alice, você é a que passou um bom tempo com seus filhos aqui! Para qual carro usaremos para escapar?!” perguntou a jovem Paige enquanto atirava nos Walkers.
Como havia alguns carros parados em diversos cantos, seria uma perda de tempo ficar vasculhando um de cada vez para ver qual que ainda está funcionando e com um pouco de gasolina. E como a mulher passou um bom tempo se escondendo com seus filhos neste lugar, ficaria mais fácil ela indicar qual deles está em bom estado e com uma aparência menos destruída.
E em meio a luta, avistou um que chamou bastante sua atenção.
“Ali! Aquele deve servir.” apontou ela para um Ford F-250, ano 1973. Pelo porte de caminhonete, conseguiria transportar três passageiros na frente e até cinco ou seis pessoas na parte de trás, ou uma boa leva de carga, desde que não ultrapassasse o peso limite para suportar.
“Você acredita que ainda esteja funcionando?” perguntou Priscila com a espada ensanguentada na mão.
“É claro que acredito.”
“Neste caso, vamos indo! Do contrário, não sairemos daqui de jeito nenhum.” concluiu Paige enquanto deu seu último disparo e se preparava para recarregar seu rifle.
Sem demoras, o grupo corria em direção a caminhonete. A medida que se aproximavam do veículo, as duas garotas seguravam os zumbis para não alcançarem Alice, Andrew e Mark durante a fuga. E quando alcançaram, Alice foi para o assento do motorista e girava a chave de partida. Andrew e Mark sentaram no banco dos passageiros da cabine, levantando os vidros da janela a fim de se protegerem do perigo. Paige subia na caçamba e atirava naqueles que tentavam se aproximar deles. E a Priscila descarregava todo seu Yoki em seu corpo, maximizando sua agilidade e força para esquivar e revidar os ataques dos zumbis.
No entanto, o veículo só dava uns roncos durante as partidas que Alice dava ao girar a chave no contato. É como se o veículo não quisesse ligar, por mais que tente. Seus filhos assistiam as duas sobreviventes enfrentando os monstros no lado de fora.
“Mãe?” perguntou Mark diante da situação.
“Não se preocupe, Mark. Tá tudo sob controle. Ela vai ligar de vez e todo mundo vai para um lugar superseguro.”
E foi neste instante que surge um zumbi no lado esquerdo do veículo. A forma de como apareceu e batia no vidro gritando deixou todo mundo na cabine assustado. Ainda mais a Alice que gritava apavorada no veículo, tentando ligá-lo várias vezes. Paige viu o monstro tentando entrar na cabine, e com o dedo no gatilho já pronto, virou o fuzil nele, atirando em seguida. O que sobrou dele foi uma cabeça aberta tombando na janela, derramando sangue no vidro e lateral do veículo.
“Bom, eu não creio que a situação está sob controle.” retrucou Andrew.
Mark concordou com o irmão diante disso. E quando a mãe continuava girando a chave de partida no contato, Paige recarregava seu rifle para atirar novamente. Contudo, ela notava que mais zumbis surgiam ao redor do veículo. Estava ficando assustada com a munição se esvaziando num ritmo espantoso.
“Vamos logo, Alice!” pensava ela assustada por ainda não conseguirem ligar a caminhonete.
Priscila avançava em mais uma onda de zumbis famintos por carne. Após o seu último golpe, seu Yoki estava beirando no limite. Tinha receio de utilizar força total e sucumbir aquilo que mais temia de se tornar.
“São muitos deles para segurar. Não vou conseguir utilizar o meu Yoki além do que já posso, senão vou Despertar.” pensava ela em meio a respirações ofegantes.
Para as guerreiras na Organização em meio as batalhas, o uso prolongado do Yoki é perigoso. Além dos 10% de seu uso, os olhos adquirem a coloração dourada com pupilas de gato. Além dos 30%, as veias de seus rostos ficam visíveis e seus dentes ficam afiados. Nos 50%, seus corpos são desconfigurados numa aparência monstruosa e adquirem capacidades de estender seus membros, como se fossem de borracha. O limite máximo que conseguem alcançar gira em torno dos 70% e antes que alcançassem este limite, ainda detém a capacidade de retornar para o estado original. Mas além dos 80% resultaria no Despertar, um estágio final de uma guerreira que ultrapassou o limite de seu Yoki, incapaz de regressar ao seu estado original.
Ainda com a espada na mão, a guerreira daria tudo de si para derrubá-los, mesmo que venha sacrificar sua vida pela de seus companheiros. Estando de pé, sacudia sua arma no ar e reassumiu sua postura de combate. Pouco antes de avançar, escutou o som de motor ligando sem corte ou engasgada. Virou, era a caminhonete ligada de vez.
“Priscila! A caminhonete está ligada!” chamou Paige do alto da caçamba.
Ouvindo aquele chamado de sua amiga, a guerreira não perdeu um minuto sequer ao maximizar suas forças para retornar ao veículo em funcionamento. Ao ver três zumbis entrando na direção dela, Priscila deu um salto na cabeça de um deles, e com um forte impulso, saltou em direção da caminhonete, estourando a cabeça daquele no processo.
Aterrissando na caçamba, Paige correu para ajudá-la. Priscila estava exausta, porém ilesa. Nenhum arranhão, corte ou mordida em seu corpo. Vendo que todo mundo estava a bordo do veículo, Alice foi engatando a primeira marcha e se preparava para tirar todos daquele lugar macabro.
“Agora sim. Muito bem pessoal, creio que já podemos ir.” disse Alice sorrindo, pisando no pedal do acelerador em seguida.
A caminhonete saía a toda velocidade, atropelando alguns mortos-vivos e esmagando algumas cabeças durante a fuga dos sobreviventes. Priscila e Paige sentiam o veículo balançar quando isso acontecia. E quando alguns tentavam subir, as duas o faziam largar, acertando-os na cabeça ou nas mãos. Os que corriam atrás deles foram deixados para trás.
A motorista foi aumentando a velocidade do veículo, alcançando a terceira marcha. Desta vez, estavam bem distante do estacionamento e começavam a se distanciar da cidade que estavam.
Os sobreviventes conseguiram escapar, sobrevivendo mais um episódio assustador com os mortos-vivos. Entretanto, ainda estavam longes de alcançar o destino, oculto mas reservado para eles no final desta incansável luta pela sobrevivência.
Entretanto, era um mundo desconhecido lá fora. As duas estavam sozinhas em meio a uma imensa cidade deserta, sem um lugar adequado para se abrigarem, sem comida apropriada para reporem suas forças consumidas durante a fuga e sem alguém que pudessem conhecer para ajudá-las. Apenas para encontrar nada.
A jovem garota da camisola olhava ao seu redor por algo que pudesse ser sinal de abrigo ou de sobreviventes. Em meio ao seu olhar, via a sua nova amiga e guardiã desbravando o caminho adiante.
“Ei…” chamou ela para Priscila.
Ao ouvi-la, a guerreira parou por um momento para conversar.
“Sim, Paige?”
“Sabe, lá no hospital… eu, nem sei como te agradecer por você ter aparecido e por ter me salvado dos zumbis.” respondeu a garota nervosa.
Priscila sorria para ela. “Tá tudo bem, Paige. Fico feliz também por você estar viva a fim de me ajudar a encontrar alguma coisa neste mundo.”
“Ajudá-la a encontrar alguma coisa neste mundo”? Do que ela se referia com “alguma coisa”?
“Desculpa, mas, que tipo de coisa você procura?” perguntou Paige.
“Eu não sei o que seria. Mas ao que me parece, seria um caminho para eu voltar pro meu mundo.”
“Seu mundo? Tipo, o lugar de onde você mora?”
“Isso mesmo.”
“E… como esse mundo de onde você veio se parece?” perguntou Paige curiosa, sem ter tido uma resposta completa lá no hospital.
Diante da pergunta de Paige, Priscila estava para respondê-la até que, sentiu algo pairando no ar. Para ela, parecia sinal de perigo iminente.
“Paige, sei que tem várias perguntas. Mas agora eu não posso respondê-las.”
“O que foi? Mais zumbis?”
“Talvez. Ou talvez algo a mais. Precisamos ir.”
Sem tempo a perder, Paige continuou sua jornada ao lado de Priscila. Por mais que precisavam ir adiante, a viagem ficava cada vez mais exaustiva, muito ainda quando se trata de achar abrigo para se protegerem dos zumbis.
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As duas sobreviventes chegavam numa loja da cidade em que estavam. Tudo o que puderam encontrar foram algumas bolachas, cereais e alguns enlatados. Não era muita coisa, mas era o suficiente para alguns dias. Além disso, costumava vender algumas roupas, artigos esportivos e até de caça.
Enquanto Priscila foi checar por alguma bolsa ou algo para transportar seus suprimentos, Paige avistou algumas roupas numa bancada. Ela continuava com aquela camisola hospitalar que usava após a cirurgia de extrair a bala em seu peito. No que ela olhava naquele móvel, Paige selecionou algumas peças do conjunto das quais chamaram a sua atenção para vestir. Uma calça bege, uma camisa branca de manga longa com algumas partes em verde, uma camisa escura de manga curta, um par de sapatos e algumas peças de roupas de baixo foram os que ela escolheu para vestir.
Sua amiga se aproximava dela com algumas porções de comida. Quando entrou na loja de roupas, Paige retirava a camisola de seu corpo, revelando a atadura que cobria a cicatriz da cirurgia.
“Priscila!” espantou Paige. Como reação, colocou sua mão para cobrir sua púbis.
A guerreira examinava seu corpo. Estendeu sua mão no local da sutura coberta pelas bandagens de primeiros socorros, o que desencadeou um certo receio na outra.
“O que você está fazendo?!” perguntou ela espantada.
“Está tudo bem, Paige. Não vou fazer nada de ruim pra você. Além disso, sou uma garota, como você. Não há razão para isso.” respondeu a guerreira ao colocar sua mão naquela região do corpo de Paige.
“Por acaso, você não é… lésbica?” perguntou Paige enquanto engolia seco de nervosa e se relutava em deixar a Priscila examiná-la.
“Lésbica? O que é isso?” perguntou Priscila sem saber o que aquilo se tratava.
“É quando… duas garotas ficam muito… próximas intimamente e… rola uns lances entre elas. Você… é?”
“Eu, não.” respondeu ela um pouco nervosa. “Na verdade eu só vou examinar a sua ferida. Não há nada a mais que eu tenha por você, exceto a sua segurança e bem-estar.”
Aquela resposta deixou Paige acalmada. Diante disso, deixou sua amiga examinar a cicatriz quando ela cortou um pedaço das bandagens e retirá-la de seu corpo. E o que pode ver era fios de metal mantendo aquele corte fechado até estar cicatrizado por completo.
Priscila pressionava seus dedos naquele lugar, causando um leve susto na sua amiga. A sensação que teve foi súbita, mas foi se acostumando ter a Priscila como alguém para confiar. Concluindo o exame, a mão da guerreira se desprendeu daquela região.
“Então? Como foi?”
“Bom, o machucado está quase fechado. Mais um dia e você não precisará disso.”
“Você é… médica?”
“Não. Mas devido às habilidades, posso sentir como os outros estão. Se eu tivesse meios para curar as feridas de outros, eu não seria uma guerreira de porte ofensivo.”
“Ofensivo?”
Diante daquela pergunta, Priscila retirou sua espada da transportadora para mostrar o cabo de sua espada. Paige, enquanto estava para se vestir com as roupas selecionadas do balcão, prestava atenção na Priscila.
“Nós na Organização, recebemos uma posição como guerreira conforme as nossas habilidades. As guerreiras ofensivas, dotadas de força física para utilizar golpes esmagadores ou agilidade para manobras acrobáticas, recebem uma espada de cabo vermelho. As guerreiras defensivas, dotadas de habilidades regenerativas ou maior resistência física, carregam espadas de cabo verde.”
“E a sua? O que o azul representa?” perguntou Paige enquanto vestia o sutiã e a calça bege.
“Esta espada é dada para as guerreiras de Dígito Único. As melhores e as mais fortes da Organização.”
“As mais fortes? E como assim Dígito Único?” perguntou ao vestir a camisa preta.
“Atualmente, consistimos das guerreiras do posto Número 1 ao 47. Do primeiro ao décimo, somos classificadas como Dígito Único. Por esta razão, nossas espadas devem ser de cabo azul. Depois da Número 11, cada uma recebe uma espada conforme sua ordem, defensivo ou ofensivo.”
Por fim, Paige vestiu a camiseta de manga verde e branca.
“Como guerreiras, é nosso papel de proteger os humanos dos Yomas, em troca do acordo que temos com eles. Da nossa fidelidade com os humanos que prezamos muito em protegê-los.”
Por mais que a sua última conversa não tenha sido de há muito tempo, Paige recordava dela ter mencionado o nome Yoma. Mas o que realmente são esses “Yomas”?
“Yomas? O que são eles?”
“São nossos inimigos mortais e o pesadelo dos humanos. Atacam por meio das sombras, se alimentam das tripas e cérebros de humanos e se passam por eles para atacar outros. Humanos não conseguem distinguir Yomas do resto da população humana, mas nós podemos.”
“Como?”
“Por causa de nossas habilidades. Como podemos sentir a presença de um Yoma por entre os humanos, cabe a nós de despachá-los para manter a paz e a segurança deles dos monstros que caçamos.”
Paige estava surpresa e chocada por ouvir da Priscila a história sobre os Yomas. Ela espera que não haja um bicho desses em seu mundo. Já que os zumbis são assustadores o bastante, imagine um Yoma se passando por humano, vagando nesta cidade deserta em busca de carne humana.
Sem mais demoras, a guerreira guardou sua espada de volta na transportadora e se prepara para andar novamente.
“Bom, por hoje é isso. Sei que tem mais perguntas que queira fazer, mas receio que não podemos ficar paradas por muito tempo.”
A jovem Paige concordou com a guerreira. Concluindo a conversa, foram a procura de outras coisas que pudessem aproveitar em sua jornada pela sobrevivência. Deixando a loja de roupas, passaram pela loja de artigos de caça. A maioria dos rifles de caça eram de fábricas notáveis como Remington, Winchester, Ruger, Mauser e algumas da antiga Springfield Armory. O que podia ter também era algumas pistolas e armas de pressão com a finalidade para defesa pessoal e treinamento de tiro ao alvo.
Priscila não viu interesse em pegar alguma arma de caça ou de pressão para contar além da espada, mas Paige optou um rifle de caça Marlin Modelo 25, de ferrolho manual; e uma pistola Colt M1911. Mesmo não tendo algum treinamento militar para porte de armas, Paige pressentia que poderia derrubar alguns zumbis. Ao ver a Priscila olhando para as bancadas, resolveu chamá-la.
“Priscila, você não pensa em pegar alguma pistola ou rifle de caça?”
“Não. Eu, não me daria bem com uma dessas.”
“Mesmo que pudesse enfrentar os zumbis com sua espada poderosa, não sei se por situação, surja números imbatíveis que possam te sobrepujar e suas habilidades.”
“Em todo caso, vamos torcer que sejam uma situação imaginária.”
As duas sobreviventes já estavam com suas bolsas e armas preparadas para partir. Não havia mais nada que pudessem levar das lojas, e de lá foram desbravar o exterior.
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De volta no lado de fora da cidade, Priscila e Paige retomavam sua jornada pela sobrevivência. A situação atual permanecia calma, porém a guerreira pressentia que a qualquer momento poderia surgir alguma emboscada.
Casas e prédios vazios, lojas e mercados arrombados, becos imundos por latões de lixo tombados e ruas repletas de carros parados e papéis caídos no chão. Paige continuava assustada só de olhar pra aquele ambiente assombrado. Priscila permanecia em estado de alerta, na espera de surgir zumbis ou algo aterrorizador que possa emboscá-las.
Ao cruzarem com uma avenida, um vulto surgiu do lado esquerdo, correndo para o estacionamento, um dos principais pontos de referência deste lugar.
“Priscila?” chamou Paige surpresa.
“Sim, Paige. Eu vi. E está correndo para o estacionamento.”
“Você acha que é um sobrevivente?”
“Não sei. E também não parece ser um zumbi pelo comportamento de seus passos.”
As duas mantiveram seu olhar na figura fugitiva em direção àquele lugar.
“Será que podemos investigar aquele lugar, pra ver aonde a fugitiva vai?” perguntou a jovem sobrevivente com o fuzil na mão.
“É arriscado, Paige. E não podemos perder tempo com investigações. O sol vai se pôr mais rápido a medida que desviarmos do nosso objetivo.” apontou Priscila para o horizonte do sol poente. E como a atividade de zumbis ficaria mais ativa no meio da noite, seria arriscado demais para as duas ficarem em zona desabrigada, enfrentando as criaturas mortos-vivos até sucumbirem.
“Mesmo que possamos perder algum tempo, poderemos ter ajuda de sobreviventes se pudermos encontrar um.”
Priscila suspirava de desconforto. Ela se preocupava bastante pela segurança de Paige. Entretanto, a guerreira sabia que outros sobreviventes poderiam ajudá-la com a busca daquilo que possa o caminho para o seu mundo.
“Vamos, Paige. Iremos até onde a nossa figura sombria vai parar.”
Priscila e Paige foram de atrás daquilo que surgiu em seus olhos, rumando para o estacionamento desta avenida. O lugar parecia pequeno da posição em que elas estavam, mas a medida que se aproximavam ficava cada vez maior. E tudo o que podiam avistar de lá era alguns pedaços de concreto no chão, teto esburacado e alguns carros caídos no chão. A iluminação do lugar variava de um ponto ao outro. Algumas lâmpadas estavam quebradas, outras piscavam e algumas permaneciam acesas.
As sobreviventes avançavam no interior do estacionamento, passando ao lado de uma van com um farol aceso. Priscila sentia que a chance das coisas piorarem aumentaria quando forem mais ao fundo daquele lugar arruinado. Diante disso, colocou sua mão direita no cabo de sua espada. Paige, que olhava ao redor dela e de sua amiga, mantinha seu rifle erguido.
No próximo passo que deram, escutaram o som de uma porta de carro se fechando. Elas pararam por um instante para procurar a fonte do barulho. Andaram em direção a uma frota de carros abandonados na direita, acreditando que a fonte do barulho veio por entre um deles. Paige ergueu seu rifle para o alto enquanto andava, e Priscila sacava sua espada da transportadora. Um dos carros manteve as luzes acesas, coisa que poderia ser arriscada caso alguém queira se esconder de assaltantes. E quando elas se aproximaram de lá, uma surpresa.
“Não! Não nos machuque!” disse uma voz de mulher assustada.
Era uma mulher com aproximadamente 39 anos, pele rosada, cabelos longos de cor castanhos escuros. Vestia uma blusa vermelho-salmão com um jeans azul-escuro. Parte de seu rosto estava manchado de sujeira, sinal que tinha caído no chão por alguns momentos. E em seus braços, estavam dois meninos, com idades entre 14 e 16 anos. O da esquerda tinha cabelos castanho-claro, camiseta branca com borda azul e calça cinza. Este parecia ser o mais novo deles. E o da direita era castanho-escuro, usava óculos corretoras, camiseta verde lima com bordas verde-escuro e calça marrom. Este parecia ser o mais velho. Ambos possuem pele rosada como da mãe.
As duas garotas ficaram espantadas por vê-los com vida. Aparentemente, devem ter sobrevivido ao apocalipse zumbi, da mesma forma que a Paige. Mas, como foi que conseguiram parar neste estacionamento esquecido?
“Por favor, não nos machuque! Só estávamos procurando por comida e não sabíamos que tinha gente lá na loja.” disse o menino mais novo.
Olhando uma pra outra, resolveram guardar suas armas. “Tá tudo bem. Não vamos machucar vocês.” disse Priscila ao acalmá-los.
“Somos sobreviventes, como vocês.” completou Paige.
Ouvindo aquelas vozes confortantes, aquela família se acalmaram e aos poucos foram se levantando do chão.
“Vocês são… são garotas?” perguntou a mãe dos meninos.
“Sim, nós somos. Eu sou Paige. Esta é minha amiga e guardiã, Priscila.” introduziu-se a jovem sobrevivente e a amiga.
“Eu sou… Alice. Estes são Andrew e Mark.” introduziu a mulher sendo chamada de Alice e os seus filhos pela ordem da direita pra esquerda. “Achamos que fossem assaltantes ou aqueles zumbis andantes.”
“Ah-hã.” negou Priscila. “Estávamos procurando por abrigo, comida e meios para nos defender. Até avistarmos alguém se dirigindo pra cá.”
“Este fui eu.” respondeu Mark. Pela idade e aparência, contava uma vantagem por correr mais longe do que sua mãe ou do irmão. “Fui procurar por comida lá naquela loja em que vocês estavam. Mas, quando vi vocês na loja de armas, fiquei espantado que fossem assaltantes.”
“Ah não. Não somos. Só precisávamos de comida e armas para nos defender.” respondeu Paige.
“Vocês possuem alguma arma para se defender?” perguntou a guerreira para eles.
“Não. Não temos.” respondeu Andrew.
“Eu não gosto da ideia de tirar uma vida, mesmo que fosse para autodefesa.” respondeu Alice.
“E também, você não gosta de que o Andrew venha fazer parte do Exército assim que chegasse à maioridade.” comentou Mark.
Ouvindo aquilo, a mãe não gostou da forma de como seu filho mais novo falou a respeito do seu irmão em querer ser soldado do Exército. “Mark! Que rude de você! Perdoe o meu filho. Ele não disse por mal.”
“Sem problemas.” respondeu Paige.
“Mesmo assim, papai gostaria que fosse assumir este papel para proteger este País de qualquer mal.” disse Andrew.
“Andrew, já falei de que eu não gosto de ver você com um fuzil na mão!” zangou ela.
“Só uma pergunta. Você é de algum grupo de religiosos que é contra o porte de armas?” perguntou a jovem sobrevivente.
“Na verdade, eu fazia parte de uma comunidade que preza na harmonia e união de pessoas, sem que recorra intervenções ou atividade de forças armadas.”
“Parecem até os grupos hippies.” comentou Mark associando o antigo movimento de ativistas contra o intenso alistamento militar americano durante a Guerra do Vietnã.
“Mark! Me desculpem pelo comportamento dele.”
“Sem problemas, Alice.” respondeu Priscila, mesmo sem saber do que tratava por ela ser de outro mundo.
E no mesmo instante, ela pressentiu algo se aproximando deles. Especificamente, a mãe dos meninos. Numa impressionante velocidade, ela sacou sua espada e lançou ela por cima do ombro direito de Alice. E o alvo atingido por ela, tratava-se de um zumbi que estava para avançar nela e morder seu pescoço.
“Mãe!” gritou os meninos assustados.
Alice ficou espantada por ver aquela incrível velocidade de reação da Priscila. Felizmente, sua vida foi salva por aquela garota espadachim. E quando ela retirou sua espada da cabeça do zumbi, o agressor caiu duro, como um boneco de tralhas no chão.
“Todo mundo, vamos sair daqui!” chamou Priscila.
Os sobreviventes saíram correndo para longe do corpo. O lugar começou a ser infestado de novos zumbis a medida que eles passavam por vários escombros e carros caídos. Dos andares superiores, dos arredores e do chão, os monstros mortos-vivos surgiam para cercar e perseguir aquele grupo. Quando alguns se levantavam próximos dos sobreviventes, Priscila dilacerava as cabeças com sua espada.
Chegando perto da entrada para o estacionamento, as duas sobreviventes se espantaram pelo céu estar alaranjado com azul cobrindo do alto. Isto significa que o crepúsculo chegou. E como a noite chega ser um adversário onipotente de ser confrontado a custo de repouso, a única opção era encontrar um abrigo temporário em meio ao estacionamento.
Paige avistou uma porta de emergência para os níveis inferiores daquele lugar. O que daria para ser um abrigo temporário à prova de zumbis.
“Por ali! Vamos!” chamou ela.
Priscila e a família foram com a Paige até a porta correndo. Durante a fuga, foram derrubando alguns zumbis no caminho a fim de segurarem com segurança. A sobrevivente com o rifle conseguia acertar alguns tiros na cabeça, enquanto a espadachim cortava os outros naquele ponto fraco. Andrew, Mark e Alice corriam o mais depressa que podiam até a porta. E quando chegaram, abriram a porta para todos entrarem e fechar de vez, privando os zumbis da única passagem para alcançá-los.
O grupo conseguiu chegar com segurança. Fecharam a porta com algumas hastes e barras de metal para trancá-la e segurar os monstros de atravessar. Por mais que eles tenham um pouco de sua antiga capacidade de raciocinar, levaram tempo para arrombar a porta e atravessar. Foi o suficiente para o grupo escapar com vida e correrem para uma espécie de armazém da equipe de limpeza e zeladoria do estacionamento.
Entrando, os meninos se sentaram no chão, Alice colocou sua mão direita na parede com a outra no coração, Paige e Priscila ficaram de pé para se recuperar da fuga.
“Ainda bem que conseguimos escapar.” disse Paige aliviada.
“Nem me fale.” concordou Andrew.
“Bom, essa passou perto. Estou surpresa pela sua espada não ter passado na minha cabeça.” disse Alice ao se levantar e olhar para a Priscila. “Ao menos, obrigada por salvar a minha vida e a dos meus filhos, Priscila.”
“De nada. Eu não queria que aquele zumbi fosse te atacar pelas costas.” respondeu a guardiã.
“E agora, o que faremos?” perguntou Mark.
“Agora é esperarmos até o amanhecer e conseguirmos achar um meio de sair daqui.” respondeu a guerreira.
“Mas nós não podemos sair daqui enquanto temos chance?” perguntou o filho mais velho.
“É arriscado, Andrew.”
“Sem falar que os zumbis possam nos perseguir no meio da noite. Por esta razão, precisamos descansar enquanto estamos abrigados.” completou Paige.
“As garotas estão certas, Andrew. Vamos esperar até amanhã e torcer para que aqueles monstros não estejam mais lá.” falou Alice.
“Tá certo, mãe.”
“Sim, mãe.” disse Mark.
“Bom, vamos dormir? Eu vou arrumar o lugar adequado para vocês se deitarem.”
Os dois meninos foram com a Alice até um lugar do armazém para dormirem. Poucos de deitarem, Paige foi abrir sua bolsa para retirar alimentos. Feito isso, ela chamou aquela família.
“Ei. Vocês querem comer alguma coisa?” ofereceu ela.
Com um pouco de fósforo e velas, Alice acendeu algumas para iluminar o armazém. Paige e Priscila retiraram um pouco de comida e água para repartir com eles. Os meninos não perderam um segundo ao irem até elas e receberem um pacote de bolachas e latas de comida. Alice, embora não demonstrar interesse pelos enlatados, aceitou pelo menos, como sinal de bom grado. Aquilo que elas puderam repartir com aquela família foi o suficiente para alimentá-los nesta noite antes de dormir. Como Priscila não conseguia comer muito devido ao seu porte físico de Claymore, deu a maior parte da sua refeição para Paige.
“Ué? Você não está com fome, Priscila?” perguntou Paige.
“Não. Eu não como da mesma forma que você.”
“Não? Mas então, como você recupera as suas forças com um pouco de comida?”
“Eu consigo passar vários dias sem comer e sem beber. E o tanto que eu posso comer é pelo menos, uma ou duas mordidas.”
“Parece que você veio de um país que passa a maior parte do tempo sem comer.” disse Andrew.
“Andrew.” chamou a mãe dele.
“Por aí. Mas é justamente isso.”
“Ei Alice, você não vai comer?”
“Eu não costumo comer muito enlatados ou bolachas.”
“Imagino que a comunidade que fazia parte não aceitem uma refeição desse tipo.” disse Priscila, imaginando que a comunidade que ela fazia parte fosse contra a alimentos industrializados.
“Não. Na verdade eu estou acostumada com comida que eu gosto de preparar.”
“Humm, comida que mãe prepara costuma ser saborosa de verdade.” comentou Paige.
“Sem dúvida.” respondeu a mãe dos meninos. Em meio ao olhar de risos, mudou para uma leve tristeza. “Mas agora, sem casa para morar, sem utensílios para preparar comida, teremos isto para nos mantermos vivos.”
Paige se sentou diante dela enquanto comia. O sabor de massa misturada com água e sal descia em sua garganta conforme digeria aquela porção da bolacha. E ao engolir, retirou uma garrafinha de água para beber.
“Bons tempos foram aqueles. Tempos em que não havia essas coisas de zumbis, gente desaparecida ou morta e cidades fantasmas.”
“Ei Alice, antes de nosso encontro lá no estacionamento, como você e seus filhos conseguiram sobreviver neste mundo repleto de zumbis?”
Aquela pergunta pegou a mulher de surpresa. Ainda triste pela sua experiência decorrente do apocalipse.
“Antes do apocalipse, meu marido e eu… costumávamos ser uma família unida. Andrew nasceu no dia que eu completei 23 anos. Depois, Mark veio quando eu tinha 25 anos. Era uma época de pura felicidade e prosperidade que nós tínhamos.”
“Mas depois disso, tudo mudou.” continuou Andrew.
Priscila virou seu olhar para eles. “O apocalipse zumbi?”
“Sim. No começo, achei que fossem aqueles personagens dos jogos bobos dos amigos de Andrew. Mas, quando os noticiários anunciaram que um estranho surto de doença começou atacar os hospitais e necrotérios, pessoas de diversos cantos da cidade adoeceram e começaram agir de forma estranha. Como se elas não fossem mais elas mesmos.” respondeu Alice.
“E quando o papai chegou mais cedo do serviço, ele chamou a gente para deixarmos a casa rapidamente.” disse Mark.
“Serviço? No que o seu pai trabalhava?” perguntou Paige.
“Ele era delegado. Trabalhava com a polícia local de Atlanta. Ele queria que os meus filhos fossem um dia servirem o Exército dos Estados Unidos, mas eu sempre fui contra a ideia dele.” respondeu a mãe dos meninos. “Mas numa noite, quando estávamos fugindo de casa para procurar abrigo, avistamos três pessoas que estavam nos perseguindo. Elas estavam fora de si, agindo e se comportando de forma estranha.”
“O pai fez de tudo para garantir a nossa segurança, e quando ele tropeçou no chão…” dizia Andrew, até que Alice o interrompeu para completar.
“… pediu para que nós corrêssemos até o abrigo sem ele. Começou a atirar nos zumbis que vinham, mas… foram muitos para conter. Só pudemos ouvir os sons de tiro de sua arma, e… seus gritos de dor. Depois que tudo parecia ter acabado, pessoas que estavam no mesmo abrigo que nós tomaram a atitude de sair para conseguir comida e um outro abrigo. Até que, nunca mais voltaram. Apesar de tudo, tentamos seguir adiante. Saímos para procurar por ajuda e suprimentos, mas não tivemos sorte.”
“Até que encontramos vocês.” completou Mark.
Paige sorriu para ele. “Sim Mark. Você nos encontrou lá na loja para caçadores.”
“E vocês? Também estão nessa luta pela sobrevivência. O que faziam antes do apocalipse?”
“Eu protegia os humanos numa aldeia do mundo que eu vim.” respondeu Priscila.
“E eu estava internada no hospital da região.” respondeu Paige.
“Internada? O que aconteceu com você, Paige?” perguntou Alice surpresa.
“Eu fui baleada no peito. Agora, o que eu fazia… não consigo me recordar ao certo.” respondeu a garota, apontando para onde está a cicatriz da cirurgia. “Quando acordei, o hospital estava infestado de zumbis, e eu precisei correr para a saída. E foi lá que eu conheci a Priscila.”
“É uma história e tanto.” disse Andrew.
“Sim.”
“E… por curiosidade, vocês sabem de algo que seja um tanto… diferente do comum?”
“Como assim ‘diferente do comum’?” perguntou Alice.
“Eu estou à procura de uma coisa que possa ser um meio de voltar para o meu mundo. Sabem de algo parecido?” disse Priscila.
A família respondeu que não sabiam de algo que a Priscila tinha dito. Meio tempo, Andrew comentou que ajudaria a guerreira da melhor forma que puder. Mark bocejou de sono e quase fechava seus olhos. Alice o abraçou.
“Bom, agora é hora de descansar. A comida estava boa, valeu Priscila e Paige. Precisamos dormir para estarmos prontos para retomar a nossa jornada.” chamou Alice.
Andrew e Mark se deitaram no colo da mãe deles. Priscila retirou sua espada da transportadora para enfiá-la no chão e colocar suas costas na lâmina para dormir. Feito isso, as outras estranharam o jeito que ela foi se deitar. Paige se deitou no chão para dormir.
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Dez minutos se passaram quando o grupo adormeceu. Paige abriu seus olhos levemente, sentindo que não conseguia pegar no sono depois daquela história. Levantou um pouco para certificar de alguma coisa. E quando olhava para a Priscila, resolveu chamá-la.
“Priscila. Priscila.” chamou ela.
A guerreira abriu seus olhos ao ouvir a voz da garota.
“Paige? O que foi? Não conseguiu pegar no sono?”
“Eu… eu preciso falar com você sobre uma coisa.”
Priscila se levantou do chão para conversar com a Paige. Foram para um canto do armazém, passando pela mulher e seus filhos adormecidos. Ao chegarem na parede, elas colocaram suas costas a fim de apoiá-las naquele lugar. Paige olhava para sua amiga enquanto se acomodava.
“Diga Paige. Imagino que tenha a ver como vamos sair daqui.”
“Quase. Mas é mais relacionado com eles.” disse ela a respeito da família.
“Como assim?”
“Você disse que estava procurando por algo que seja um meio de voltar pro seu mundo. Mas não conhecem ao certo o que seria. Muito ainda nós duas.”
“Certo. Isso é verdade. Mas, aonde você quer chegar?”
“Precisamos achar um lugar adequado para eles se abrigarem. Não podemos deixar eles se machucarem em nossa jornada pela sobrevivência.”
“Mesmo que fôssemos deixá-los para um lugar seguro, que chance terão caso aconteça alguma coisa de ruim no meio do caminho?”
“Eu sei, Priscila.”
“E mesmo que tenha um lugar que seja seguro de verdade, sem zumbis, para onde você acredita que seja seguro?”
“Talvez eu saiba onde.” disse uma voz que chamou a atenção delas.
Ao virarem pra ver, a dona da voz era a Alice. Ela deve ter acordado quando as duas começaram a conversar a respeito de um lugar para onde seria seguro para ela e seus filhos.
“Alice?” perguntou Paige.
“Não estava dormindo com seus filhos?” perguntou Priscila.
“Eu ouvi que vocês estavam conversando sobre um lugar adequado para os meus filhos e eu. Talvez eu possa te ajudar com isso.”
As duas garotas trocaram olhares, uma com a outra, e depois retomaram a atenção na mulher adulta.
“E aonde você acredita que seja mais seguro?”
“No sul.” respondeu a mulher com um mapa na mão que havia retirado de sua bolsa. “Eu imagino que o apocalipse não tenha se alastrado até o sul. Como as rotas marítimas e aéreas estão limitadas para o pessoal autorizado e estranhos não são bem recebidos sem um passe apropriado, acredito que indo de carro pela rodovia principal e atravessarmos a fronteira com o México seja o suficiente para sairmos deste país.”
A respeito da escolha de Alice para um lugar seguro a fim de conseguir abrigo para ela e seus filhos, Priscila e Paige olhavam uma na outra. Com aquela sensação de que haja uma chance desconhecida de que o apocalipse não tenha se alastrado até o sul, do México para os países da América do Sul.
“Você acredita que lá seja seguro para vocês viverem?” perguntou Priscila.
“Mas é claro que sim, Priscila. Afinal, tenho tudo em ordem para sairmos daqui.”
“Com que carro e para onde no México?” perguntou Paige.
Diante daquela pergunta, Alice ficou meio quieta. A forma de como a sobrevivente perguntou parecia questionar as capacidades da mulher de poder tirar seus filhos desta cidade, mesmo que uma boa parte seja inexistente.
Paige, embora tenha adquirido uma porção de experiência de sobrevivência através da Priscila, em comparação ao dela que ficou um bom tempo se escondendo dos zumbis, sentia algo no plano de Alice que poderia não dar certo. Como poderia ter certeza de que o Sul não foi realmente afetado? Em compensação, a mulher sorriu sem demonstrar muita indiferença.
“Eu sei que tem muitas perguntas a respeito das minhas capacidades e de como sairemos daqui. Mas não se preocupe. Assim que amanhecer, direi tudo a vocês como vai ser feito.” disse ela sorrindo. Ao olhar para seus filhos, relembrou que ainda estava de noite e que precisavam descansar depois da fuga. “Podemos voltar a dormir? Boa noite, meninas.”
Alice retornou para onde estavam Andrew e Mark para se realojar e dormir. Paige continuava a acreditar que aquela resposta não era o suficiente. Quando Priscila notava aquela sensação na outra, resolveu chamá-la.
“Paige, você acha que ela esteja escondendo alguma coisa de nós?” perguntou a guerreira sobre aquela conversa com Alice.
“Eu não sei ao certo. Mas sinto que ela tenha mais coisas. Só não sei se ela quer contar tudo de vez para nós.”
Olhando um pouco para eles, Paige se perguntava. Como eles poderão viver com tudo isso, sendo que existe a possibilidade de não conseguirem encontrar aquilo que esperavam encontrar?
“Paige, eu sei que está preocupada por eles. Eu também. Só não sabemos se os rumos poderão continuar numa única direção.”
“E pra onde, Priscila?! Eu não sei se o México ou qualquer outro lugar daqui esteja seguro para todos nós!” disse Paige, erguendo um pouco o tom de sua voz.
Priscila pediu para ela silenciar-se um pouco. Mark virou-se um pouco enquanto dormia. Ainda não acordou, o que aliviou as duas. E também precisavam garantir para que nenhum zumbi escute uma voz alta e seja atraído por ela.
“Paige, você está preocupada demais por eles. Eu sei. Mas não precisa se exaltar. Olha, vamos conforme o que a Alice planejou e torcer para que estejam certos. Tá bem? Bom, sem mais nada para falar, precisamos voltar para nossos cantos de descanso.” concluiu Priscila.
A última retornou a sua espada enfiada no chão, apoiando sua costa na lâmina para dormir. Paige continuava inquieta com o destino deles. Ainda sim, resolveu se deitar no chão e dormir.
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Dia seguinte, o sol se erguia no horizonte sombrio da noite. Aquilo que estava coberto pelas sombras dos prédios e casas foi se minguando pela luz. E partes do estacionamento foram iluminadas pelo sol, revelando uma contingência de zumbis. Alguns perambulavam por entre os carros e corredores. Outros estavam parados, sentados ou de pé à espera por alguma presa.
Paige continuava deitada no chão, repousando quieta. Em meio ao seu descanso, Andrew e Mark chegavam para acordá-la. O mais novo deles estendeu sua mão no ombro dela, enquanto o mais velho se aproximava de sua orelha para chamá-la.
“Paige. Paige, acorda.” chamava Andrew no ouvido da garota adormecida. Mark cutucava ela no ombro.
Com aquele toque e a voz fluindo por todos os sentidos de seu corpo, Paige se despertava vagarosamente do seu sono, bocejando e erguendo seus braços para o alto.
“Uh, Mark? Andrew? O que… o que houve?” perguntou Paige enquanto despertava.
“Priscila pediu para todo mundo acordar.” respondeu Andrew.
“Aqueles zumbis de ontem começaram a invadir os corredores, e não falta muito para chegar aqui.” completou Mark.
Ouvindo aquilo, seus olhos se arregalaram de medo e foi se levantar para pegar o rifle de caça e ir até a porta, onde a Claymore se encontrava. Chegando da guerreira, encontrou com a Alice. Ela estava encostada na parede, atrás da Priscila para se proteger caso os mortos-vivos atravessem a porta e infestem aquele armazém dos faxineiros. Seus filhos se reuniram com ela após acordarem Paige.
Paige se aproximou de Priscila enquanto a mesma segurava sua espada, esperando pro primeiro ataque dos zumbis.
“Priscila?” chamou Paige com o rifle de caça.
“Os zumbis atravessaram a porta do estacionamento e estão vagando pelos corredores.”
A sobrevivente olhava para Alice e seus filhos, depois para a porta. Priscila permanecia quieta com a espada em prontidão.
“São quinze deles. Quinze zumbis vagando nos corredores.”
“Quinze? Como você sabe disso?” perguntou Paige surpresa pela sua guardiã saber a quantidade deles.
“Tem um pequeno buraco na porta. É o suficiente para vê-los.” respondeu ela largando um pouco da porta, permitindo a Paige a chance para poder ver.
Indo ao canto usado pela outra, a garota viu aquele pequeno grupo de zumbis vagando sem rumo fixo no corredor.
“E agora, o que faremos?”
“Eu posso canalizar o meu Yoki para as minhas habilidades e derrubar aquele grupo de uma só vez.”
“Yoki? O que é isso?”
“É a energia que eu possuo para usar minhas habilidades. Além de mim, as guerreiras da Organização, os Yomas e os Despertados, possuímos Yoki e utilizamos ele para enfrentar incontáveis adversidades em combate.”
“Tá. Não sei se eu consegui entender tudo de uma vez, mas, será que podemos sair daqui caso tenhamos derrubado eles?” perguntou Alice enquanto se aproximava das duas.
“Mesmo que as outras levas de zumbi venham de vários lados, teremos uma chance de escaparmos assim que o caminho até ao estacionamento estiver limpo.” respondeu Priscila.
No lado de fora, o grupo de zumbis continuavam no corredor à procura de algo vivo para se alimentarem. E quando ouviram a porta se abrindo, ficaram atraídos pelo som e da garota que chegava com a espada na mão. Sem um minuto de espera, as criaturas corriam em sua direção para atacar.
Calmamente, Priscila fechava seus olhos enquanto vinha de encontro com aquela correnteza. Num instante, tornou a abri-los e uma intensa onda de energia emanava de seu corpo, e num espantoso ato, saltou para frente. Os corpos dos zumbis foram destroçados em vários pedaços e suas cabeças dilaceradas ao meio.
Paige e os outros ficaram espantados de ver o incrível avanço da guerreira em eliminar aquele grupo. A guerreira virava-se para vê-los, e ao espanto de todos, os olhos dela não eram mais prateados como antes, agora eram dourados e suas pupilas tinham um formato similar à de um felino. Além disso, havia algumas veias saltadas em seu rosto.
“Priscila?” chamou Paige assustada.
A guerreira fechou seus olhos novamente. Desta vez, as veias de seu rosto sumiram e ao tornar abri-los outra vez, a cor voltou para prateado.
“Está tudo bem, Paige. Precisamos ir.” disse ela.
O grupo saiu correndo até a saída, em direção aonde os carros e veículos estavam estacionados. Priscila permanecia na frente para abrir caminho, Paige ficava no meio e algumas vezes atrás da Alice e filhos.
Durante a fuga, a Claymore olhava um pouco para cima enquanto corria. Pressentia um pouco de movimentação dos andares superiores, o que poderia ser preocupante caso sejam atacadas do alto. Retomando o olhar para frente, foram surgindo alguns zumbis da porta para as escadas. E pouco antes de alcançarem a saída, Paige apontava e atirava com seu rifle nos mortos-vivos. Parou para conseguir maior controle do recuo dos disparos. Por sua vez, Priscila dilacerava seus adversários com sua espada.
Os sobreviventes atravessaram o grupo de mortos-vivos dos corredores até a saída para o estacionamento. Quando os outros as viram saindo, começaram a correr gritando em direção de suas presas, sendo dilacerados em seguida pela espada de Priscila. Paige atirava na cabeça de outros zumbis que vinham da sua esquerda.
“Alice, você é a que passou um bom tempo com seus filhos aqui! Para qual carro usaremos para escapar?!” perguntou a jovem Paige enquanto atirava nos Walkers.
Como havia alguns carros parados em diversos cantos, seria uma perda de tempo ficar vasculhando um de cada vez para ver qual que ainda está funcionando e com um pouco de gasolina. E como a mulher passou um bom tempo se escondendo com seus filhos neste lugar, ficaria mais fácil ela indicar qual deles está em bom estado e com uma aparência menos destruída.
E em meio a luta, avistou um que chamou bastante sua atenção.
“Ali! Aquele deve servir.” apontou ela para um Ford F-250, ano 1973. Pelo porte de caminhonete, conseguiria transportar três passageiros na frente e até cinco ou seis pessoas na parte de trás, ou uma boa leva de carga, desde que não ultrapassasse o peso limite para suportar.
“Você acredita que ainda esteja funcionando?” perguntou Priscila com a espada ensanguentada na mão.
“É claro que acredito.”
“Neste caso, vamos indo! Do contrário, não sairemos daqui de jeito nenhum.” concluiu Paige enquanto deu seu último disparo e se preparava para recarregar seu rifle.
Sem demoras, o grupo corria em direção a caminhonete. A medida que se aproximavam do veículo, as duas garotas seguravam os zumbis para não alcançarem Alice, Andrew e Mark durante a fuga. E quando alcançaram, Alice foi para o assento do motorista e girava a chave de partida. Andrew e Mark sentaram no banco dos passageiros da cabine, levantando os vidros da janela a fim de se protegerem do perigo. Paige subia na caçamba e atirava naqueles que tentavam se aproximar deles. E a Priscila descarregava todo seu Yoki em seu corpo, maximizando sua agilidade e força para esquivar e revidar os ataques dos zumbis.
No entanto, o veículo só dava uns roncos durante as partidas que Alice dava ao girar a chave no contato. É como se o veículo não quisesse ligar, por mais que tente. Seus filhos assistiam as duas sobreviventes enfrentando os monstros no lado de fora.
“Mãe?” perguntou Mark diante da situação.
“Não se preocupe, Mark. Tá tudo sob controle. Ela vai ligar de vez e todo mundo vai para um lugar superseguro.”
E foi neste instante que surge um zumbi no lado esquerdo do veículo. A forma de como apareceu e batia no vidro gritando deixou todo mundo na cabine assustado. Ainda mais a Alice que gritava apavorada no veículo, tentando ligá-lo várias vezes. Paige viu o monstro tentando entrar na cabine, e com o dedo no gatilho já pronto, virou o fuzil nele, atirando em seguida. O que sobrou dele foi uma cabeça aberta tombando na janela, derramando sangue no vidro e lateral do veículo.
“Bom, eu não creio que a situação está sob controle.” retrucou Andrew.
Mark concordou com o irmão diante disso. E quando a mãe continuava girando a chave de partida no contato, Paige recarregava seu rifle para atirar novamente. Contudo, ela notava que mais zumbis surgiam ao redor do veículo. Estava ficando assustada com a munição se esvaziando num ritmo espantoso.
“Vamos logo, Alice!” pensava ela assustada por ainda não conseguirem ligar a caminhonete.
Priscila avançava em mais uma onda de zumbis famintos por carne. Após o seu último golpe, seu Yoki estava beirando no limite. Tinha receio de utilizar força total e sucumbir aquilo que mais temia de se tornar.
“São muitos deles para segurar. Não vou conseguir utilizar o meu Yoki além do que já posso, senão vou Despertar.” pensava ela em meio a respirações ofegantes.
Para as guerreiras na Organização em meio as batalhas, o uso prolongado do Yoki é perigoso. Além dos 10% de seu uso, os olhos adquirem a coloração dourada com pupilas de gato. Além dos 30%, as veias de seus rostos ficam visíveis e seus dentes ficam afiados. Nos 50%, seus corpos são desconfigurados numa aparência monstruosa e adquirem capacidades de estender seus membros, como se fossem de borracha. O limite máximo que conseguem alcançar gira em torno dos 70% e antes que alcançassem este limite, ainda detém a capacidade de retornar para o estado original. Mas além dos 80% resultaria no Despertar, um estágio final de uma guerreira que ultrapassou o limite de seu Yoki, incapaz de regressar ao seu estado original.
Ainda com a espada na mão, a guerreira daria tudo de si para derrubá-los, mesmo que venha sacrificar sua vida pela de seus companheiros. Estando de pé, sacudia sua arma no ar e reassumiu sua postura de combate. Pouco antes de avançar, escutou o som de motor ligando sem corte ou engasgada. Virou, era a caminhonete ligada de vez.
“Priscila! A caminhonete está ligada!” chamou Paige do alto da caçamba.
Ouvindo aquele chamado de sua amiga, a guerreira não perdeu um minuto sequer ao maximizar suas forças para retornar ao veículo em funcionamento. Ao ver três zumbis entrando na direção dela, Priscila deu um salto na cabeça de um deles, e com um forte impulso, saltou em direção da caminhonete, estourando a cabeça daquele no processo.
Aterrissando na caçamba, Paige correu para ajudá-la. Priscila estava exausta, porém ilesa. Nenhum arranhão, corte ou mordida em seu corpo. Vendo que todo mundo estava a bordo do veículo, Alice foi engatando a primeira marcha e se preparava para tirar todos daquele lugar macabro.
“Agora sim. Muito bem pessoal, creio que já podemos ir.” disse Alice sorrindo, pisando no pedal do acelerador em seguida.
A caminhonete saía a toda velocidade, atropelando alguns mortos-vivos e esmagando algumas cabeças durante a fuga dos sobreviventes. Priscila e Paige sentiam o veículo balançar quando isso acontecia. E quando alguns tentavam subir, as duas o faziam largar, acertando-os na cabeça ou nas mãos. Os que corriam atrás deles foram deixados para trás.
A motorista foi aumentando a velocidade do veículo, alcançando a terceira marcha. Desta vez, estavam bem distante do estacionamento e começavam a se distanciar da cidade que estavam.
Os sobreviventes conseguiram escapar, sobrevivendo mais um episódio assustador com os mortos-vivos. Entretanto, ainda estavam longes de alcançar o destino, oculto mas reservado para eles no final desta incansável luta pela sobrevivência.
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