Das Mädchen in Rot - Chpt 2 [Portuguese - BR]
Das Mädchen in Rot
Descrição:
Das Mädchen in Rot (Alemão: A Garota de Vermelho) é uma adaptação sombria da história original escrita por Charles Perrault e os Irmãos Grimm. A adaptação conta a história de Nella, uma jovem que vivia com sua família em uma tribo e cujo pai foi morto por um Ser-Lobo negro (é como as tribos chamam os lobisomens) enquanto ele e um amigo salvavam a jovem Nella. Após atingir a maioridade, Nella foi convocada para fazer parte de um culto onde as mulheres adultas vestem um manto vermelho e partem da tribo para a casa da Grande Mãe para receber a bênção dos ancestrais, a fim de manter os Seres-Lobo longe da tribo. De acordo com a Anciã, a casa da Grande Mãe fica nas profundezas da floresta — o mesmo lugar onde os Seres-Lobo e outras criaturas terríveis espreitam, atacando os visitantes que se aventuram sem um pingo de cautela.
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Introdução:
Há cerca de quinze Luas Cheias, uma antiga tribo vivia numa região onde viria ser uma floresta. Essa tribo era conhecida por venerar uma entidade mística cuja forma lembra um lobo.
Quando a primeira Lua Vermelha surgiu no céu, o povo daquela tribo começou a se transformar na imagem da entidade. Ninguém sabia o que aconteceu para eles se tornarem a imagem da entidade, mas diziam que o vento carregava vários uivos pelo mundo inteiro.
Uma noite, um pequeno grupo de caçadores adentraram na floresta à procura de comida. E quando avistaram o primeiro cervo para levá-lo à tribo, um enorme vulto apareceu e devorou três dos caçadores que entraram naquele lugar, restando apenas um deles para contar o que aconteceu. Ele disse que a criatura que matou os outros que foram com ele tinha a forma de um homem, mas a cabeça e pelos de um lobo.
E foi naquele dia que a tribo passou a temer a criatura lobo que atacou o nosso povo na floresta.
Capítulo 2
O corpo de Stephen foi trazido de volta à tribo e um funeral foi dado em sua despedida. A mãe de Nella ficou devastada com a perda. A filha chorou por mais de dois dias. Johann deixou a tribo com sua filha Juliet, conforme as instruções de Stephen antes de terem saído à procura da menininha. Desde então, tudo mudou para elas. Só puderam depender da criação de cabras e bodes para se alimentarem. Algumas pessoas ajudaram com um pouco de madeira e outros alimentos.
Em casa, a menina olhava para a cama do pai. Vazia exceto pelos cobertores de pêlo das criaturas que ele caçou com o Johann. Tudo o que Nella mais podia lembrar era da vez em que ela brincava com ele de agarrá-lo e ficar em cima dele até adormecer, e a mãe a colocava na cama depois de brincar. Mas agora, ela só podia deitar numa cama vazia com apenas as lembranças para se confortar.
A mãe dela entrou no quarto para fazer companhia. A menina virou seu olhar quando ouviu a porta abrir e ela entrando. Ela senta do lado, colocando sua mão na cabeça de Nella para acariciá-la.
“Nella. Posso te fazer um leite de cabra quente para te acalmar?” perguntou ela tentando confortar a filha.
Nella estava meio quieta depois de tudo aquilo. A mãe dela não estava brava nem culpando-a pela morte do pai. Em vez disso, ela estava mais triste pela perda. Se uma resposta, ela se levantou para ir ao caldeirão para cozinhar alguma coisa pro jantar. Neste momento, ouviu algo da filha, atraindo sua atenção.
“Foi tudo minha culpa.”
“O que foi, minha filha?”
“Foi tudo minha culpa. Eu não devia ter seguido aquele cabritinho para a floresta. Foi tudo minha culpa.” disse ela chorando.
A mãe dela chegou perto da menina para abraçá-la. Nella chorava nos braços dela enquanto ela a confortava, dizendo que nada disso foi culpa dela.
“Não. Não foi culpa sua. Eu sei que você tentou trazer o cabritinho de volta para o cercado, mas nada disso é culpa sua. Seu pai fez de tudo para te proteger, da mesma forma que o Johann fez naquele momento.”
“Mas então, por quê ele não ficou para salvá-lo?”
“Ele poderia ter ficado para ajudá-lo, mas seu pai queria valorizar a sua vida. Por isso ele deu a sua vida por você. Johann também daria a sua vida por você e pela sua filha. Agora que ele se foi, devemos fazer de tudo para continuar vivendo.”
Ela continuava confortando a pequena Nella naquele momento. Ela abraçou a mãe como resposta ao seu carinho e proteção. Passaram aquela tarde abraçadas, apenas a mãe e a filha.
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Duas Luas Cheias se passaram após a morte do pai de Nella. A tribo continuava a sentir a falta dele. Johann e sua filha Juliet partiram no dia de seu funeral. E devido a partida deles, a Anciã determinou que outra jovem fosse selecionada para a Grande Viagem. Mas o mais espantoso era que os ataques dos Seres-Lobo começaram a ficar comuns até que alguém pudesse realizar a Grande Viagem para pedir ajuda aos Espíritos da floresta para mantê-los longe da tribo. As demais tribos ficaram assustadas pelos ataques frequentes que resolveram cortar suas relações conosco. Tivemos pouca coisa para usufruir na falta de recursos oriundos das outras regiões.
Foram longos dias de frio, escuridão e medo que o nosso povo já passou. E quando o dia terminava, nós passamos a ficar por mais tempo em casa do que fora para realizar outras coisas e até outros festivais senão o da Grande Viagem. Parte da nossa população sumiu da tribo por incontáveis razões: com medo da Grande Viagem da mesma forma que o Johann e a Juliet haviam deixado a tribo; ou que virou presa para os Seres-Lobo na floresta ou fora de suas casas quando no toque de recolher deveriam ter ficado para não serem atacados.
Poucas de nossas jovens já estavam ficando assustadas por serem selecionadas para a Grande Viagem, mas o Chefe da tribo e a Anciã as confortaram, dizendo que os Espíritos da floresta estariam protegendo elas dos Seres-Lobo. Uma após a outra, foram selecionadas e preparadas para trafegarem na floresta para irem de encontro com a Grande Mãe em sua casa. E até agora, não se sabia o que realmente aconteceu a elas. Eu me lembro como aqueles rostos desapareceram desta tribo.
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O tempo se passou e Nella, já com seus 23 anos completos, era uma jovem adulta, de corpo amadurecido e peitos de tamanho modesto para grande, vestindo longas vestes de lã e couro curtido. Ela ajudava a sua mãe com as ordenhas para distribuir o leite de cabra com os aldeões. Na ida, tudo parecia pacífico e menos agitado como de antes. Os aldeões só passavam nos mercados para selecionar aquilo que podiam comprar e voltar para casa.
Tudo parecia normal, embora os Seres-Lobo atacassem com mais frequência de noite. Ela olhava ao redor de cada canto da tribo. A mãe andava com jarras de leite para entregar ao mercado na esquina. E quando entraram, elas entregaram as jarras a fim do vendedor distribuir o leite para quem for precisar. Em seguida, retornaram para casa. Nella andava com a mãe até o caminho de volta. Neste momento, resolveu perguntá-la.
“Mãe, você acha que os outros virão para cá para receber o leite de cabra?”
“Eu espero que sim, Nella.”
“O senhor do mercado me parecia gentil pelo olhar.”
“Há um tempo, o seu pai trazia um pouco de carne para ele separar o essencial do excesso depois das caçadas. E como não temos mais carne vindo da caça, precisamos nos virar com o que é acessível com a criação de gado e das plantações.”
“Mesmo assim, poderíamos contar com as outras tribos. Elas deveriam ajudar a gente.”
Ouvindo aquilo, a mãe parou por um momento. Seu olhar parecia mais sério do que decepcionada.
“Infelizmente não podemos mais contar com as demais tribos se estamos acometidos a viver amaldiçoados pelos Seres-Lobo da floresta. Eles têm medo de trazerem suas caravanas para serem atacadas.”
Nella ficou quieta com aquela resposta. Antes, a mãe dela costumava ser serena, mas aos poucos foi demonstrando sua rigidez com a filha quando falava alguma coisa que não podia ser agradável a ela.
“Me desculpe, mãe. Não falei por mal.” respondeu ela ressentida. Suspirou em seguida antes de completar sua resposta. “É só… tenho saudades do papai.”
“Também tenho saudades dele. Só gostaria que você tivesse um pouco mais de cuidado com o que fala perto de mim ou dos outros. Fui clara?”
“Sim, mãe.”
Prosseguiram para casa depois daquela conversa e da ida para o mercado. Tudo em seguida parecia normal, sem nada demais para fazer. Aos poucos, o sol desaparecia no oeste, outra vez para ficarem presas em suas próprias casas e não serem atacados pelos Seres-Lobo. Podiam ouvi-los uivando por entre as árvores e o vento que ecoava no horizonte.
Nella olhava para a floresta pela janela com os uivos ecoando nos ventos. Às vezes vinha aquela recordação daquela loba que viu na floresta de quando ela era criança e aquele ser com corpo de homem e cabeça de lobo. Nella fechava seus olhos aos poucos conforme a lembrança fluía na mente dela. Em seguida, o pai dela aparece após atirar algumas flechas no monstro, e depois o Johann.
“Nella!” chamou ele na lembrança dela.
“Papai!”
“Peguei a sua filha, Stephen!” disse Johann na lembrança.
“Ótimo! Agora volte à aldeia e traga ajuda!”
“Mas e você?!”
“Eu vou segurá-lo o máximo que puder.”
“Papai.” dizia ela enquanto fechava com força os olhos dela, com a lembrança ficando mais sombria.
“Eu não posso deixá-lo aqui com o Ser-Lobo!”
“Faça o que eu digo! Se eu for com vocês, esse monstro vai caçá-los e depois a aldeia!”
“Papai!”
“Papai.” repetia ela com uma lágrima escorrendo no rosto.
“Filha, haja o que houver, eu te amo mais do que qualquer coisa neste mundo.”
Nella lembrava do momento em que Johann corria com ela nos braços dele para longe do lugar onde o pai ficou com o Ser-Lobo.
“Papai! Não me deixe!”
E como último grito ecoava na lembrança, a moça tentou chamá-lo.
“PAPAI!”
Aquele grito acordou a mãe dela que dormia na cama ao lado.
“Nella! Que susto!” exclamou ela surpresa. Nella virou assustada com aquela reação súbita da mãe.
“Mamãe.”
“Sabe que esta não é a hora para ficar acordada! O que você estava fazendo?!”
“Eu… tive de novo aquela lembrança, de quando eu era pequena. E… o papai…” interrompida quando ela a trouxe para perto e de seus braços.
“Nella, aquilo já passou. Não precisa ficar lembrando daquilo. Tente esquecê-lo um pouco e volte a dormir. Tá bem?”
“Tá bem, mamãe.”
Ela retornou para a sua cama a fim de retomar o seu sono. A garota olhava mais uma vez para a floresta e em seguida rumava para dormir em minha cama. Por mais que eu tentasse esquecer daquilo, esta tem sido a lembrança mais marcante e dolorosa que a faria lembrar pelo resto da vida.
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No dia seguinte, ouviram o som de batidas. Não faziam ideia quem poderia passar em casa e muito menos a razão de sua visita. Quando a mãe de Nella foi atender quem bateu a porta, ficou surpresa que era o Chefe da tribo.
“Ah, Chefe. Não esperava a sua chegada assim tão repentina.” disse ela surpresa.
“De nenhum modo, minha jovem. Posso entrar para conversar com você e a sua filha?”
“Claro. Pode entrar.”
Ela abre a porta, convidando o Chefe da tribo a entrar. Ele era um senhor de idade com uma grande barba e cabelo cinzento, olhos verdes, pele branca porém marcada com várias rugas. Às vezes ele é visto com um manto de urso nas suas costas para distingui-lo dos demais aldeões.
Ele se sentou na mesa enquanto a mãe foi chamar Nella para conversar. Ao descer, fiquei surpresa ao vê-lo em pessoa.
“Chefe?” disse a moça ao recebê-lo.
“Olá Nella. Fico feliz em te ver. Da última vez que eu te vi, você era uma recém-nascida. Mas agora, estou surpreso que agora é uma jovem moça.” cumprimentou ele.
“Obrigada, Chefe. Eu… nem sei o que dizer.”
“Tudo bem, minha cara. Venha.”
Nella se sentou ao lado da mãe para conversar com o Chefe da tribo.
“Diga Chefe. O que o traz aqui?” perguntou a mãe.
“A Anciã está convocando A Grande Viagem. Ela pediu que eu reunisse mais uma moça para trilhá-la a fim de acalmar os Espíritos.”
“E você escolheu a Nella para esta cerimônia?”
“Dora, você sabe que estamos enfrentando um caso muito sério quando se trata dos Seres-Lobo. Quase metade do que temos se foi na floresta e as moças que foram para lá não tiveram muito êxito para convocar os Espíritos a fim de mantê-los longe da tribo.”
“Chefe, sabe muito bem que não conseguiu superar a perda do meu marido. Não aguentaria sequer perder a minha filha.” disse ela quase aflita.
“Eu sei como se sente. O tolo do Johann que ousou desafiar o pedido da Anciã por tirar sua filha do rumo sagrado é que trouxe a desgraça para a sua família.”
“Está dizendo que a morte do meu pai foi culpa dele?” perguntou Nella séria para o Chefe em relação ao acontecido que foi marcado pela morte de seu pai.
“Precisamente. Se ele tivesse obedecido às nossas tradições, nada disso teria acontecido.”
“Isto não faz sentido. Se Johann se sacrificou para o exílio por tirar a Juliet daqui, por quê ele arriscaria a sua vida para salvar a Nella?” perguntou a mãe da garota.
“Isso não vem ao caso. Mas o mais importante é que a Anciã pretende realizar a próxima Grande Viagem e ela estará disposta a aceitar Nella para trilhá-la.”
“É muito perigoso, Chefe.”
“Não tente trilhar o mesmo caminho que o Johann, Dora!” gritou ele furioso. Nella e a mãe dela ficaram caladas ao ouvir aquele tom vindo dele. “Tente desafiá-la e estará indo para a floresta no lugar de sua filha.”
Não conseguimos responder à altura. A palavra do Chefe e da Anciã muitas vezes sobrepuja a palavra de quem fosse desafiá-los. Embora a mãe dela tenha a razão de colocá-la na Grande Viagem seja uma ideia perigosa, a necessidade do nosso povo acabava indo em primeiro plano.
O homem se levantava da mesa para ir à porta. Seu olhar continuava fechado depois da conversa com as duas mulheres. Ao abri-la, ele retoma o seu olhar para a garota.
“Compareça na tenda da Anciã esta noite, Nella. Não ouse desobedecê-la nem tentar fugir do caminho sagrado, da mesma forma que a filha de Johann e de outros que uma vez tentaram.”
Em seguida ele partiu, fechando a porta da casa. A mãe dela caiu de joelhos, assustada e impotente por tudo aquilo que aconteceu. Nella foi até ela para confortá-la.
“Mãe. Você está bem?”
“Nella, eu imploro por favor. Não vá para a Grande Viagem.” disse ela enquanto derramava suas lágrimas.
“Mas mãe, você não ouviu o que ele disse? Se eu não for, eles vão te exilar na floresta e eu ficaria sozinha.”
“Você não está entendendo. Antes do seu nascimento, o Chefe costumava se importar demais conosco no passado. A segurança de cada pessoa desta tribo era inestimável até começarmos aquela cerimônia que aos poucos, muitas pessoas que foram para lá e nunca mais retornaram. Conhecidos, amigos e parentes como o seu pai. Algumas meninas que tiveram a mesma idade que a sua, sempre são tiradas de seus pais para uma tradição que aos poucos foi se mostrando absurda. Eu queria que você pudesse casar e assim se livrar desse destino, mas vejo que isso não está mais ao alcance.”
“Se eu for para lá, eu posso buscar ajuda dos Espíritos para salvar você e esta tribo dos Seres-Lobo. Eu tenho que tentar.”
“Nella, tentar é uma coisa com uma conotação muita vaga. Mas fazer algo com uma razão maior é outra coisa. É arriscado demais. Não faça isso.”
“E quem mais poderia fazer, mãe? Não há mais alguém disposto a fazer isso.”
“Nella, por favor não! Não jogue a sua vida fora por uma crença insensata que não teve resposta!”
“Mas e o papai? Ele faria a mesma coisa por aquela gente.” disse a filha com uma expressão séria, ao mesmo tempo triste. E no momento que estava para completar, começava a mudar a atenção dela para a porta. “Se você não estiver disposta a aceitar isso, então o papai teria partido por nada.”
Nella virou-se de costas e foi para o lado de fora da casa. A mãe tentou chamá-la, mas nada adiantou. Ficou sozinha para se lamentar das coisas preparadas pelo Destino.
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A garota de pele pálida e cabelo castanho dirigiu-se para o centro da tribo à procura da tenda da Anciã por conta própria. As pessoas andavam de um lado para o outro conforme seus interesses e necessidades que tinham para fazer. No caminho para a tenda, passou por um beco onde algumas crianças brincavam com uma espécie de bola para levá-la nas mãos, além de chutá-la para o espaçamento de dois postes. E quando a garota passou ao lado de uma casa, um homem a chamou.
“Não é muito comum vê-la aqui.”
Ouvindo aquilo, Nella ficou surpresa.
“Como é?” perguntou-a, querendo saber do motivo dele de dizer aquilo. Ele se levanta ao se dirigir a ela. Tinha o porte de um homem sadio com músculos formados para carregar madeira, pedra e alimento. Tinha cabelo castanho-escuro, pele branca do mesmo tom que a dela, cavanhaque longo e olhos castanhos.
“Há um tempo, você não costumava vir para cá. Sei que a sua vida foi bem solitária, sem contato com outras pessoas da sua idade ou de entender o sentido de nossos costumes.”
“E como você sabe disso? Eu o conheço por acaso?”
“Eu sou só um cara que veio de um lugar distante no qual o sol não tocava o céu durante o amanhecer.”
“O sol não toca o céu durante o amanhecer? Você é da floresta?” Nella estranhou ao ouvir que ele veio de um lugar distante e que não tinha contato com a luz do sol por um bom tempo.
Ele riu da resposta. “Não minha cara. Eu não vim da floresta. Pelo contrário, vim de uma região na qual é isolada pelas montanhas. Mas costumo dizer que o sol não costuma aparecer tanto lá por causa das montanhas.”
Aquela resposta a aliviou e às vezes vinha a curiosidade dela de conhecer as montanhas. Se ela tivesse a oportunidade de um dia conhecer esse lugar, a garota perguntaria para uma outra ocasião.
“Diga. O que a fez vir para cá, neste beco meio perdida?”
Nella suspirou por ter que dizer aquele acontecimento. “O Chefe me disse que se eu não fosse trilhar a Grande Viagem, eles mandariam a minha mãe no lugar. Ela insistia para que eu não fosse, mas eu preciso falar com a Anciã em sua tenda.”
“Entendo. Não deve ser fácil lidar com uma escolha dessa. Mas vem cá, por que escolheu encontrá-la sabendo que a sua mãe pronunciou sua resistência?”
“Ele acha que se eu me encontrasse com a Anciã, eu poderia salvar esta tribo dos Seres-Lobo. Assim como o meu pai que se sacrificou para me salvar na floresta.”
Ouvindo aquilo, o homem ficou sentido pela moça. “Eu sinto muito pelo seu pai. Sabe, eu não tenho filhos e não conheço muitos costumes daqui. Dessa forma, eu não saberia dizer se estou arriscando a vida de uma pessoa por várias se eu fosse colocar alguém nesta Grande Viagem.”
“Então, isso tudo é novidade para você. Certo?”
“Eu cheguei aqui após a última Lua Cheia. Fiquei ciente de que este lugar estava sofrendo por causa dos Seres-Lobo. Eu não me atreveria em enfrentá-los pela falta de conhecimento. Eu pensaria em deixar este lugar antes de qualquer coisa.”
“E, você tem saudades da onde você veio? Pensa em um dia voltar para lá, mesmo que os Seres-Lobo estejam vagando na floresta?”
“Eu não vejo muitos motivos para voltar. Até porque ficou deserto quando meu povo resolveu se espalhar para vários lados deste mundo. E da parte desses Seres-Lobo, sei que está um pouco assustada de um dia deixar este lugar e ser atacada por um deles.”
“Sabe mais ou menos a razão de estarem atacando a gente?”
“Eu não faço ideia. Só imagino que eles costumam atacar como os lobos que avistamos das vezes que vagamos na floresta.”
“Então, você também foi caçador?”
“Sim. Eu costumava caçar à noite quando era possível. Mas depois parei quando a tribo começou a diminuir o tempo de estadia ao anoitecer. Mas que um dia eu queria um novo cobertor de pelos daqueles bichos? Isso eu toparia e muito.”
Antes de continuar a conversa, ele virou seu olhar ao se dirigir para a esquerda.
“Se procura pela tenda da Anciã, dirija-se à esquerda. Verá uma grande tenda com uma fumaça saindo pela saída. Perto do vasto, eu diria.”
“Obrigada pela direção. Espero não tê-lo tomado o seu tempo.”
“Não, sem problemas. Eu só estava de estadia até ver você por aqui.” respondeu o caçador com um sorriso.
“Fico feliz em ouvir isso. Bom, eu preciso ir. Até mais.” despediu-se a jovem Nella enquanto rumava em direção a tenda da Anciã.
“Até mais, minha jovem.” ele respondeu ao olhá-la indo em direção a tenda.
Nella correu em direção à tenda. Embora ainda seja meio cedo para o anoitecer, podia ver aquela estrutura feita de couro, tecido, madeira e fumaça ganhando tamanho conforme ela se aproximava do lugar.
Perto o bastante, ela olhava para o alto do lugar e depois para a entrada. Em seguida, entrou naquele lugar para ver a Anciã.
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A tenda da Anciã, como em algumas histórias contadas pela minha mãe, emanava algo misterioso e místico além das chamas e o incenso queimado pelas sacerdotisas. Dizem que o incenso queimado permite a Anciã ter visões sobre as estações do ano e as previsões do futuro que apenas os Deuses e os Espíritos possam transmitir para ela a fim de se comunicar com o nosso povo. Ninguém ao certo sabe como ela consegue fazer isso, mas ela é a única nesta tribo a se comunicar através dos Espíritos.
No fundo, Nella podia ver uma figura sentada numa espécie de cadeira ou trono, embora a cortina de linho, pedrinhas e ossos atrapalhasse a distinção de quem estaria naquele canto da tenda. Ela foi se aprofundar para ver. Ao atravessar aquela cortina, pode ver a pessoa que a queria ver nesta noite. A Anciã.
“Bem-vinda, Nella. Eu estava à sua espera.” saudava ela enquanto sorria para a moça pálida.
“Anciã.” disse Nella, reverenciando-se perante ela. “Sei que eu deveria visitá-la no meio da noite, mas, eu tenho tantas perguntas que não sei por onde começar.”
“Eu sei, minha jovem. Está tudo bem em me ver a qualquer momento. Eu não estou dirigindo uma cerimônia a esta hora, mas eu fico aberta para conversar com quem precisa de mim.”
A Anciã se levantou do seu lugar de ocupação ao se dirigir a convidada. Nella permanecia sentada perante a mulher de idade. Em seguida, a jovem sentiu o toque da mão dela no rosto.
“Eu responderia a todas as suas perguntas sem nenhuma restrição ou pesar. Diga uma delas.”
“Bem, a primeira delas é: Por quê a mim?”
Ouvindo aquilo, ela imediatamente tornou a respondê-la. “Nella, você sabe muito bem o que está acontecendo e o que esta tribo está passando. Diversas Luas Cheias, enviamos nossas jovens preparadas para a Grande Viagem com o propósito de buscar ajuda dos Espíritos para manter os Seres-Lobo para fora deste lugar. Infelizmente, muitas delas foram e não conseguiram. Você possui algo que há muito tempo permaneceu oculto a ponto de desaparecer.”
“E o que seria?” perguntou ela curiosa.
“Uma única coisa que a torna especial. Diferente das outras que foram.”
Nella estava quase ficando desesperada. “Diga, Anciã.”
“Coragem.”
“Coragem? Mas, as outras não foram corajosas o bastante para desbravar a floresta durante a Grande Viagem?”
“Calma. Não é apenas uma coragem na qual carrega o tempo todo. É uma coragem única na qual reside no seu coração e espírito.”
“É mesmo? E tem como eu ser corajosa através disso?”
“Tem, Nella. Mas você só consegue fazer isso quando você estiver realmente pronta para encarar um perigo. Mas sinto que uma vez, você conseguiu despertar uma porção desta sua coragem.”
“Quando e como?”
“Na floresta, quando você se perdeu por lá até ser encontrada por uma loba.”
Quando ela ouviu aquilo, veio a lembrança daquela loba que a encontrou naquele dia. Pouco antes de terem sido atacadas pelo Ser-Lobo de pelos negros e de Stephen, pai de Nella, se sacrificar para protegê-la.
“Eu sei que parece confuso de como eu sei desse dia, mesmo eu não tendo estado presente para vê-la. Ou do seu pai.”
“Você… você acha que o meu pai se sacrificou por que ele era um tolo?”
“Não. Ele não teria dado a sua vida pela sua de forma tão vaga e insensata. Nem o amigo dele, Johann.”
“Mas, e o Chefe da tribo? Ele acredita que Johann foi tolo e arrogante por ter deixado o meu pai para me tirar da floresta.”
“O Chefe pode acreditar no que quiser, principalmente pelo fato das nossas tradições serem mais importantes do que qualquer coisa. Mas tudo tem um propósito nesta vida que deve ser obedecido. Embora Johann tenha tirado a sua filha do caminho para a Grande Viagem, ele sabia dos riscos que seu pai tomaria ao te procurar. Se ele tivesse ficado com seu pai, vocês teriam morrido para a fera que espreita nas sombras.”
As palavras da Anciã acalmavam a jovem moça naquela tarde. Nella sabia que o pai dela não teria morrido por nada, nem o Johann ter jogado toda a sua lealdade pela tribo por quebrar uma de nossas antigas tradições. Agora a preocupação é a mãe dela por não concordar com a ideia da filha trilhar a Grande Viagem e uma coisa der errada no decorrer da jornada sagrada.
Antes que elas pudessem encerrar a conversa, a moça resolveu fazer uma outra pergunta.
“Anciã. Por que os Seres-Lobo nos atacam?”
“Isso eu não faço ideia, Nella. Mas sei que eles agem conforme os instintos de lobo que herdaram do Grande Espírito do Lobo.”
“Igual nas histórias que minha mãe contou para mim de quando eu era pequena. E houve alguém que já enfrentou eles?”
Ela balançou a cabeça para os lados. Isso podia ser entendido que ninguém sobreviveu para contar a história de como derrotou um Ser-Lobo como aquele. “Nosso povo costuma evitá-los porque não há nada que pudesse enfrentá-los. Mesmo que houvesse um meio de enfrentá-los, teríamos desbravado a floresta sem nenhuma dificuldade.”
“Eu lembro de ouvir histórias sobre uma Grande Mãe, vivendo numa casa no interior da floresta. Quem poderia ser?”
“A Grande Mãe é uma das pessoas que conseguiu se aventurar na floresta até ser cercada pelos Seres-Lobo. Ela é tão boa como eu com as previsões. Muitas das nossas jovens que foram na Grande Viagem, tinham a tarefa de encontrá-la e poder se comunicar com os Espíritos para afugentar os Seres-Lobo. Mas como não tivemos êxito nas últimas vezes, precisamos garantir que esta cerimônia seja realizada de vez.”
A Anciã olhava para a jovem com ternura, acreditando que ela estava destinada para salvar esta tribo após se encontrar com a Grande Mãe e entrar em contato com os Espíritos.
“Você fará parte da Grande Viagem para salvar o seu povo e a sua família, jovem Nella?”
A garota por sua vez estava um pouco nervosa pela pergunta da Anciã sobre fazer parte da Grande Viagem. Dar a vida dela pela tribo podia ser um caminho sem volta. Mas estava determinada em conseguir encontrar a Grande Mãe e poder ajudá-la a se comunicar com os Espíritos para salvar toda aquela gente que conhecemos.
“Sim. Eu farei parte da Grande Viagem.”
“Fico feliz que escolheu o nosso povo.” respondeu ela sorrindo. “Esta noite, vamos prepará-la para a Grande Viagem. Pode ficar conosco até o anoitecer.”
“Sério? Mas, e enquanto a minha mãe? Ela está com medo de que eu vá para a Grande Viagem e aconteça uma coisa horrível no meio.”
“Ah, não se preocupe. Garanto que a sua mãe ficará bem depois disso. Ela só está assustada depois que o Chefe passou na sua casa para dar meu recado.”
“Tomará que sim.”
Nella acompanhou a Anciã até a um canto da tenda para descansar um pouco e esperar o anoitecer para o festival de iniciação para a Grande Viagem.
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O sol desaparecia no horizonte. Os preparativos de iniciação para a Grande Viagem estavam em andamento. Em uma parte da tenda, Nella olhava para frente enquanto as sacerdotisas a banhavam com água morna e incenso. Lenços de pano e lã deslizavam pelo corpo da moça, limpando de qualquer resquício de impureza. A Anciã dizia que isto purificava o Espírito de Nella de qualquer emoção negativa e que a prepararia para o dia da minha jornada para a floresta.
Depois da purificação, elas aplicavam em algumas partes do corpo dela com uma espécie de tinta vermelha, feita com plantas amassadas e preparadas em potes especiais. O rosto da moça foi pintado com uma porção de vermelho para simbolizar a nova iniciada para a Grande Viagem. E depois disso, vestiram ela com um longo vestido branco.
Fora da tenda, Nella saiu para ir até onde a Anciã estava. Para a surpresa, várias pessoas estavam ao meu redor, dando aquele apoio moral e gritando o nome dela. Duas sacerdotisas a guiavam para o encontro com a Anciã. Nella estava um pouco nervosa pela iniciação, mas à medida que avançava, a coragem crescia no coração dela. Tambores tocavam conforme ela andava até uma espécie de altar. E ao chegar no alto, aquela pessoa que iniciaria a cerimônia mandou-os parar.
“Pela vontade dos Espíritos, eu aqui vos convoco para iniciarmos mais um rito de iniciação para a Grande Viagem. Nella, que de bom grado concordou em fazer parte desta jornada.”
Todos estavam mais surpresos, porém, ansiosos e esperançosos de que a moça de pele pálida conseguisse realizar o que as outras não conseguiram realizar antes.
“E antes que eu pudesse iniciar esta abertura, devo lembrá-los de que o papel da Nella é viajar até a casa da Grande Mãe e pedir ajuda aos Espíritos. Através deles é que poderemos viver em paz, mantendo os Seres-Lobo longe daqui.”
O povo clamava, gritava para os Seres-Lobo ficarem longe daqui. Nella olhava para tudo aquilo com uma expressão de surpresa. E para completar o espanto, notou um rosto familiar no meio daquele aglomerado de pessoas.
“Mãe?” pensou ela ao ver o rosto da figura maternal.
Por sua vez, Nella virou seu olhar de volta ao altar quando a Anciã a chamou outra vez. Ela segurava uma tocha acesa para ela usar no rito de abertura. Ao se aproximar da pessoa que iniciou o rito, a tocha foi passada na mão da moça.
“Nella, segure esta tocha. Quando eu falar para colocar a chama no altar, você deve fazer. Entendeu?”
Nella respondeu que sim. Quando se dirigiram ao altar, os tambores começaram a ficar estrondosos a cada batida simultânea. Ela olhava para o fogo que se alastrava na ponta da tocha, e depois para a plateia. A mãe dela continuava naquele lugar por entre aquela gente. Novamente, Nella retomou a atenção na Anciã ao ouvir seu chamado.
“Já pode colocar o fogo no altar.” disse ela, estendendo a mão para aquele lugar.
A garota o fez conforme a instrução da Anciã. Colocando a chama no altar, um círculo de fogo surgia naquele lugar. Todos aclamaram, gritando e celebrando aquele rito. Virando o olhar delas para os aldeões e pessoas, a Anciã erguia sua mão para o alto.
“Que isto seja o começo para mais uma Grande Viagem e uma nova chama da esperança possa nos guiar para a salvação. Nella cumprirá o papel que os Espíritos e os Deuses a conceberam.”
Todas as pessoas presentes celebraram aquelas palavras da Anciã. Nella estava surpresa pela força que elas tinham a fim de apoiá-la. Em seguida, ela desceu as escadas com a Anciã até a grande tenda. No caminho, passamos pelo lado da mãe da moça.
“Mãe.” disse a filha surpresa, mas aliviada em vê-la. “Eu não esperava em te ver aqui.”
Os olhos dela estavam cheios de esperança e aceitação no lugar de decepção, medo, desgosto ou desdém.
“Eu sei Nella. Até porque você é minha filha. Eu não poderia deixá-la sozinha, mesmo que faça algo que não seja do meu agrado. Seu pai também faria o mesmo por você.”
“Mamãe…” dizia ela por pensamento enquanto ficava emocionada pelas palavras de sua mãe. Novamente, a Anciã chamou pelo nome da nova iniciada à Grande Viagem.
“Precisamos ir, Nella.”
Nella olhou mais uma vez para os olhos da mãe antes de partir. Uma lágrima escorria de seu rosto. Ela queria ficar do lado dela mais uma vez, mas a escolha já estava feita. Por sua vez, prosseguiu com a Anciã até a tenda. Tambores e o som das pessoas se calaram após as duas mulheres entrarem.
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No dia seguinte, Nella estava dormindo na cama da tenda. A iniciação para a Grande Viagem terminou. Uma das sacerdotisas se dirigia a ela para acordá-la. A iniciada estava um pouco cansada para se levantar enquanto a sacerdotisa a balançava para acordar. No último chacoalhar, abriu-se os olhos para ver.
“A Anciã me pediu para acordá-la. Ela te espera do outro lado.” disse ela enquanto sorria.
A iniciada olhava para a outra surpresa, e depois para onde estaria a Anciã. Levantou-se da cama e acompanhou aquela pessoa para ver a nossa líder espiritual que se encontrava lá.
Entrando naquele lugar, várias servas e ela a esperavam a fim de prepará-la para a Grande Viagem. Elas trouxeram algumas peças de roupa para Nella vestir. Um vestido por baixo, um vestido por cima, um par de sapatos de couro e pêlos, um cinto e uma capa vermelha. Nella olhava para elas, e quando a mais velha delas chegava até ela com o primeiro vestido nas mãos, percebeu que se tratava da preparação da viagem dela até a floresta.
“A Anciã nos pediu para prepará-la em sua Grande Viagem. Para isso, você precisa vestir estas roupas.” instruiu ela enquanto segurava o vestido inferior.
Nella começou a tirar as roupas delas para vestir as que são permitidas pela Anciã no rito da Grande Viagem.
Minutos após colocarem aquela vestimenta, junto do vestido superior de cor esverdeada, a Anciã chegava de sua reunião com o Chefe da tribo. As servas terminaram de calçarem ela com os sapatos e o cinto.
“Espero que goste dessa cor.” disse ela ao se aproximar da sua protegida.
“Ele coube perfeitamente em mim.” respondeu Nella com um sorriso.
“Fico feliz que ele serviu bem em você. Gostaria que ficasse com ele pelo resto da sua vida.”
A garota olhava para a Anciã enquanto suas servas traziam a capa vermelha. Elas colocavam aquela vestimenta nos ombros dela e amarraram uma fita de linha vermelha na frente. A capa vinha com um capuz que protegeria a cabeça do frio e da chuva.
“Esta capa. Pra que ela serve?” perguntou ela ao olhar para a líder espiritual.
“A capa é uma forma de proteção concebida pelos Espíritos. Aquelas que foram para a floresta com esta capa em seu corpo, nunca precisaram temer mal algum. Acredite em mim.”
“Quer dizer que se eu estiver com isto, os Seres-Lobo não virão me atacar?”
“Sim, Nella. Nada neste mundo, inclusive eles, vão machucá-la.”
Pouco antes de concluírem os preparativos, a Anciã pediu para que a Nella prestasse atenção no que fazer no momento em que entraria na floresta durante a Grande Viagem.
“Nella, quero que você preste atenção. No momento da sua entrada para a floresta, você deve tomar bastante cuidado aonde você for ou com quem você for encontrar no meio do caminho. A sua primeira tarefa é ir para a casa da Grande Mãe e pedir ajuda dela para se comunicar com os Espíritos.”
“E o que fazer depois que eu me encontrar com ela?”
“Somente ela te dirá a sua próxima tarefa. Tudo o que posso te dizer é que você precisa encontrar com a Grande Mãe e conseguir chamar os Espíritos para nos ajudar. Se não o fizer, toda esta tribo, inclusive a sua mãe, morrerá. Os Seres-Lobo vão nos atacar com força total e não haverá ninguém para impedi-los.”
“Não se preocupe, Anciã. Eu não vou fracassar com vocês.”
“Eu sei que não vai.”
Com a capa arrumada por cima de Nella, a Anciã a chamou.
“Mais uma coisa, Nella. Na Grande Viagem, você receberá um nome especial para usá-lo na floresta, da mesma forma que as outras antes de você.”
“Um nome especial”? A garota não fazia ideia que tipo de nome especial a Anciã estava falando. Devido a esta dúvida, Nella resolveu perguntar.
“Um nome especial? E… como eu deveria ser chamada dessa forma?”
“Você será chamada de A Garota de Vermelho.” respondeu ela sorrindo.
“‘A Garota de Vermelho’? Será por causa da capa?” perguntou-a ao associar a capa que estou usando.
“Sim. Muitas usam este nome por ser uma antiga tradição do nosso povo. É essencial que você use ele no lugar do seu próprio.”
Num instante, antes de completar sua fala, uma das servas chega até a Anciã para passar um recado. Era o Chefe, querendo saber se a moça estava pronta para partir. A líder informa a outra que estavam para sair da tenda.
“Espero que esta seja a sua última pergunta. Não há como poder ter as suas respostas para perguntas súbitas antes da sua Grande Viagem começar. Uma vez começado, não há como voltar atrás. Entendeu, Vermelho?” disse ela séria.
Nella respondeu que sim. Dito aquilo, demonstrou a ela que estava pronta para enfrentar um mundo completamente diferente do que já foi visto.
“Muito bem. Já podemos ir.”
As duas prosseguiram para a saída da tenda, em direção aos portões da tribo.
Todas as pessoas estavam reunidas para se despedirem dela. O Chefe da tribo, a Anciã, a mãe de Nella e outros que nem sequer eram conhecidos. Uma após a outra, foram cumprimentando ela e concebendo boa sorte e bênção para a jornada até a floresta. Ao chegar a vez do Chefe, ela o olhava com um leve descontentamento, porém pacificamente.
“Nella, por você ter se voluntariado para a Grande Viagem, eu gostaria de te dizer que o seu papel é de extrema importância. Tenha cuidado com quem você for encontrar na floresta e não fale com ninguém exceto a Grande Mãe.” disse ele como sua última palavra antes dela partir.
“Tá bem, Senhor. Eu não falarei com ninguém que eu fosse encontrar.” respondeu a moça de vermelho com um olhar sério.
Ele fechou seus olhos ao balançar sua cabeça por dizer o que precisava. Em seguida, Nella dirigiu-se à Anciã.
“Fico feliz por ter te conhecido, Nella. Quando a conheci, parecia que o Destino havia reservado este encontro no momento que entraste na minha tenda.” respondeu ela com um sorriso.
“Eu espero que isto dê certo. Estou disposta a ajudar todos desta tribo para continuarem vivendo.”
“Eu acredito em você, Nella. Vá em paz e lembre-se. Os Espíritos de nossos ancestrais estarão sempre com você.”
Dito aquilo, ela a agradeceu e prosseguia até a última pessoa: Dora, a mãe dela.
“Mãe, sei que isto não era aquilo que você queria para mim.”
“Tá tudo bem, minha filha. Sei que não era, mas vejo que os Espíritos te reservaram algo maior. Dar a sua vida para salvar a todos nós é algo na qual eu não posso segurar ou impedir. Seu pai faria a mesma coisa por eles.” respondeu a única pessoa da família que ajudou a criar até este dia.
Ela levantou uma cesta de palha, feita unicamente para a viagem. Quando ela a viu, não fazia ideia do seu conteúdo.
“O que é isso?” perguntou Nella sobre a cesta.
“É uma cesta de alimentos. Vai te ajudar na sua viagem até a cabana da Grande Mãe. Mas lembre-se de deixar um pouco pra ela se alimentar.”
“Pode deixar, mãe.”
Nella pegou a cesta que ela preparou com carinho e cuidado. Ao se olharem pela última vez, a filha notou uma expressão de tristeza depois que uma lágrima escorreu do rosto da mãe.
“Mãe, eu…”
“Eu sei, querida. Eu sei. Sei que não gosto de ficar um tempo sem te ver, mas, você tem uma obrigação conosco. Só por favor, não parta antes de mim.” disse ela chorando. Nella a consolou, colocando suas mãos no rosto dela.
“Está na hora de ir, Vermelho.” chamou a Anciã pelo novo nome.
Nella ergueu o olhar para a líder espiritual da tribo enquanto confortava a mãe dela. Em seguida, voltou a vê-la outra vez. E naquele momento, uma última fala dela emergiu de seus lábios antes de iniciar a jornada.
“Vá Nella. O futuro desta tribo está em suas mãos.”
Nella prosseguiu para frente, um passo em direção ao portão. Depois, virou-se para olhá-los pela última vez. Tudo isto parecia estranho demais para ela, de eu deixar a tribo para realizar um grande feito por eles. Vendo a mãe sorrindo para dar-lhe forças fez com que a Garota de Vermelho avançasse mais em direção a floresta.
E foi naquele dia que ela deixou a mãe dela, a casa e a tribo para realizar uma tarefa sagrada que determinará o futuro de todos os moradores. O futuro que salvaria eles dos Seres-Lobo.
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